Instruções de Krishna
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Capítulo do Livro Mística da Experiência Religiosa Transcendental
O livro conta detalhes de uma história transcendental, a qual causa o aparecimento de uma nova Religião. Esta relação entre a vida espiritual e as manifestações de espiritualidade que aparecem na Terra nunca foi antes mostrada desta maneira. A obra expõe pormenores tanto da parte interna que lhe dá origem quanto da parte externa que é revelada através de uma coleção de escritos (internos/externos, espirituais/transcendentais).
É interna a história espiritual da autora (Shri Krishna Madhurya), que a associa à Pessoa de Krishna (Shiva – Harihara) para sempre. É externa (e interna) o sistema de Fé Neo-Bhagavata, que nasce desta associação. O que este livro ensina serve para toda pessoa que tenha interesse em decifrar sua religiosidade e aprimorar seu jeito de relacionar-se com Deus. Ele é, portanto, fundamental para todo aquele que ama a vida e que deseja compreendê-la cada vez melhor.
Os trechos a seguir compõem um capítulo do livro, no qual Krishna instrui seu devoto e amigo mais sincero, Uddhava. Ele o faz no final do período de Sua permanência na Terra, quando Kali Yuga está prestes a se estabelecer, havendo indícios de um tempo de escuridão espiritual que está chegando. Madhurya, estando eternamente do lado do Seu Senhor e Amado, registra os acontecimentos, detalhando-os no capítulo. As fotos ilustram a viagem dela, com Shri Dauji Kana-Vanashaya a Prabhas, cenário dos eventos de tais escritos.
Presságios de Tempos Difíceis
Os sinais do final da Era de Dvapara são relatados no Mahabharata: Mausala Parva, onde está escrito:
Naquela época, as damas de Vrishni sonhavam todas as noites que uma mulher de pele negra e dentes brancos, entrando em suas residências, ria em voz alta e corria por Dvarka, arrancando os fios auspiciosos dos seus pulsos. Os homens sonhavam que abutres terríveis, entrando em suas casas e câmaras de fogo, se empanturravam de seus corpos. Seus ornamentos, guarda-chuvas, estandartes e armaduras eram vistos sendo levados por terríveis rakshasas (…).
Os dois grandes estandartes do carro de Krishna e do carro de Baladeva, aquele com o dispositivo de Garuda e este carregando o dispositivo da palmeira, reverentemente adorados por aqueles dois heróis, eram levados embora por Apsaras que, dia e noite, invocavam os Vrishnis e os Andhakas para partirem em peregrinação a alguma água sagrada (Mahabharata 16. 3)1.
Quando isto acontece, Krishna anuncia aos anciãos do Seu reinado que é chegada a hora de irem todos executar seus últimos ritos em Prabhasa. Ele mesmo havia assumido ser necessário que os Yadus fossem eliminados. Os homens de Sua família fizeram parte de Suas estratégias para excluir demônios e reis iníquos do planeta.
Tendo já cumprido com Sua tarefa, os Yadus não precisavam mais continuar na Terra. Madhava já tinha inclusive feito arranjos para que Sua dinastia fosse destruída no momento oportuno. Quando Seus filhos eram ainda jovens rapazes, eles foram amaldiçoados por uma assembleia de brahmanas. Samba, o filho de Jambavati, vestido de mulher grávida e acompanhado com outros dos seus irmãos, tentaram enganar os sábios. Eles perguntaram aos mesmos se “aquela mulher grávida” daria luz a menino ou menina.

Os Yadus são Amaldiçoados
Os brahmanas, percebendo a brincadeira, enfurecidos, amaldiçoaram a dinastia Yadava a ser destruída por uma maça de ferro que nasceria do ventre de Samba. De fato, a maça aparece desta maneira e é jogada no mar pelo Rei Ugrasena, avô de Krishna. Um peixe a engole, sendo capturado pelo caçador Jara. Este caçador usa um pedaço da arma como ponta de uma de suas flechas, a qual terá uma função importante na conclusão da história da dinastia.
“A Pessoa Suprema, sabendo o significado de tudo isto, por ser o Senhor de todas as coisas, não desejou reverter a maldição dos brahmanas e, na Sua forma do tempo (Kala, uma das formas de Shiva), a aceitou alegremente (Srimad-Bhagavatam 11.1.24)”. Ele assim o faz porque está vivendo e realizando ao mesmo tempo os pormenores de Sua lila pessoal.
É por Seus desígnios que tanto os brahmanas quanto Gandhari amaldiçoam os Yadavas, assim como minha própria essência é por desejo dEle amaldiçoada2. Então, com espontaneidade, Krishna, observando os distúrbios que estavam em andamento em Dvarka, falou aos anciãos do reinado: “Se desejamos permanecer vivos, não devemos mais residir aqui. Vamos para a sagrada Prabhasa hoje mesmo, sem demora (Srimad-Bhagavatam 11.6.35)”. Uddhava, amigo amado de Krishna, dEle se aproxima, desejando instruir-se e pedindo para deixar também o planeta. Ele sabe que tudo ficará desolado na ausência de Keshava, inclusive seu coração. O Senhor o instrui:
“Você não deve permanecer aqui quando Eu abandonar a Terra, pois está sem pecados. O povo da Era de Kali fará coisas pecaminosas. Abandonando toda afeição por seus parentes e amigos e fixando sua mente completamente em mim, você deve andar pelo mundo, observando tudo com equanimidade. É bom você saber que o mundo que percebe através da mente, da fala, dos olhos, ouvidos e outros sentidos, é temporário e apenas imaginado como verdadeiro por influência de maya (Srimad-Bhagavatam 11.7.5-7)”.
Os 24 Mestres Espirituais do Avadhuta
Posso acompanhar Suas palavras e raciocínios transcendentais, dos quais obtenho conclusões para minha própria sobrevivência nesta Era. Por isto mesmo, Madhava autoriza-me a estar por perto, ouvindo o que Ele diz para Uddhava. Até porque uma das principais atividades que tenho naqueles últimos 36 anos de Madhava no planeta é escutá-Lo. O que ensino no aqui-agora desta parte da lila eterna que está mostrando-se para os que têm coração para nos compreender, vem-me da permanência ao lado dEle.
A eternidade da relação com a Pessoa Suprema nunca desaparece, de modo que não dá para separar o que aprendo com Krishna em Prabhasa (Dvarka) e/ou enquanto me percebo em Kali Yuga ainda aprendendo com Ele. Importa que eu aprenda a viver para amá-Lo, sem desejar nada mais que não seja isto.
É como o avadhuta inquerido pelo rei Yadu da história que Krishna conta para Uddhava. Ele permanece livre do fogo da luxúria e da cobiça, dentro do qual as pessoas do mundo material ardem. Este brahmana conta ao rei ter-se refugiado em vinte e quatro mestres espirituais, como: o céu, a água, o fogo, a lua, o sol, a serpente, a aranha e a vespa. Estudando as atividades deles todos, o avadhuta aprende a ciência do ser. Krishna ensina a Uddhava, portanto, sankhya-yoga. Ou seja, Ele quer que entendamos e que vivenciemos Seus mecanismos a partir da observação das coisas ao nosso redor.
Tudo se movimenta conforme o que Ele pensa e isto aprendo nesta e em todas as outras lilas em que nos deciframos um para o outro através do Amor. Keshava ainda nos mostra a ação do tempo, a qual faz com que tudo passe.

Ele diz a Uddhava que o Avadhuta aprende com as ondas do tempo, as quais fluem sem cessar. Este santo também aceita os objetos materiais que vêm para si, mas desapega deles sempre que eles sejam requisitados para outros fins e/ou para o uso por parte de outros seres. Madhava, o Mestre perfeito e infalível, instrui-nos ao instruir seu devoto amado. Ele quer que a alma individual compreenda que não deve cultivar apegos, sejam eles por objetos, sejam eles por laços familiares. Pois tanto uns quanto outros pertencem-nos apenas provisoriamente.
A qualquer momento pode haver a necessidade de nos transferirmos para outras instâncias da vida, mudando de rumos e tendo que aceitar outros recursos para compor nossas experiências. Só mesmo nossos elos com Ele são para sempre mantidos. É como a ex-prostituta Pingala, da história do avadhuta, que se rende a Deus, conclui:
“O Senhor é o absolutamente querido bem querente de todos os seres. Por render-me a Ele, dar-lhe-ei desfrute assim como Rama (ou Shri Devi) o faz (Srimad-Bhagavatam 11.8.35)”.
Caminho da Flor de Lótus (Kamala Yoga)
Shri Devi é a essência que me movimenta, fazendo-me servir aos pés dEle nesta lila também. De fato, não há nada mais fundamental do que a rendição que Madhava ensina ao mundo, ao revelar todas estas coisas que Ele nos revela. O Senhor ainda narra a Uddhava que é preciso controlar a mente para que ela se fixe na Sua Suprema Pessoa. Para tanto, é necessário alcançar a plataforma de serviço transcendental a Ele, em Bhakti-Rasa. Isto temos escrito também aqui nesta janela que se abre para o mundo de Kali Yuga e através da qual ensinamos o Caminho da Flor de Lótus.
Este caminho (ou meio) é yoga que existe por revelar também a mística da experiência religiosa transcendental, a que Krishna se refere nos diálogos que continua a travar com o mundo, porém de outra maneira. Seja de um jeito ou de outro, Ele insistentemente nos orienta, indicando que os objetos dos sentidos materiais têm falsos valores, exceto se são percebidos a partir da compreensão que Ele nos concede quando o atingimos. Ademais, o Srimad-Bhagavatam 11.10.5 revela Madhava também dando esta instrução:
“Quem é devotado ao Senhor, deve assumir os princípios reguladores, inclusive os menores, como banhar-se, mantendo o asseio do corpo, dentro do possível; e abrigar-se no(a) Mestre(a) Espiritual que o conhece intimamente e está tão próximo dEle que é como se fosse Ele mesmo (a instruir o devoto)“.
Krishna dá expansão às Suas explicações sobre a relação mestre discípulo, comparando o Mestre com o graveto que se coloca na base da fogueira, o discípulo como o graveto acima e a instrução como o que fica entre ambos. O Conhecimento Transcendental é o fogo que surge de tais interações entre os três gravetos. O fogo reduz a ignorância a cinzas, trazendo Luz para o mundo e felicidade para os envolvidos. Ele diz que o devoto submisso desenvolve conhecimento puro por ouvir submissamente o Mestre Espiritual.
Assim dá-se conformação ao conhecimento que se aperfeiçoa, libertando a alma do que a aprisiona aos ciclos de nascimentos e mortes. Todas estas coisas, eu o ouço falando para sempre e para sempre me aplico a estar junto de Keshava, a Luz da vida e o Senhor de todas as criaturas e mecanismos. Também escuto Sua voz dizendo a Uddhava e a mim mesma que a alma é originalmente livre dos condicionamentos.Mas, a pessoa usa do livre-arbítrio para acreditar-se livre enquanto se aprisiona por suas presunções. O aprisionamento está na maneira com que alguém se deixa envolver pelos modos da natureza material. É isto que Keshava ensina, orientando a alma da seguinte maneira: “O ser individual (jiva) é parte integrante de Mim, ó muito inteligente (Uddhava); e tem-se mantido cativo por tempos imemoriais, podendo libertar-se através do conhecimento (Srimad-Bhagavatam 11.11.3)”.
Ele então compara a Pessoa Suprema com um pássaro que observa outro se alimentando, o qual é a jiva. Alimentar-se e não se alimentar é uma analogia que Ele faz a fim de comparar a condição condicionada da alma com a condição liberada dEle. A Superalma eternamente liberada nunca se deixa envolver pelos modos da natureza e os fatos da existência como a jiva faz.
A Perfeição do Yoga
Baseando-se em Seu Conhecimento perfeito, Krishna continua ensinando Uddhava, que o ouve com submissão e profundo amor. O Senhor descreve para Ele as características de uma pessoa santa e como um devoto pode abandonar os falsos orgulho e prestígio através de atividades devocionais. Madhava descreve a purificadora associação com os devotos dEle, sendo a mais purificadora de todas a Sua própria associação. Por este motivo, a perfeição do yoga é o Serviço Devocional à Pessoa Suprema, o que é a principal conclusão de tudo o que Ele fala para Uddhava.
Então, após receber as instruções de Krishna, é dito que este devoto puro e santo foi para Badarikasrama, onde se ocupou com austeridades. Ele alcançou enfim a Morada Eterna, onde está junto de Keshava para sempre. Exatamente da mesma forma que todo aquele que ouve as instruções que o Senhor nos oferece diariamente, seja através do contato com a vida, seja diretamente por meio da associação com a Pessoa dEle.

- Garuda é a águia transcendental que transporta Vishnu, rakshasas são demônios, apsaras são dançarinas celestiais e os Vrishnis e Andhakas são os familiares de Krishna e Balarama. ↩︎
- Shri Krishna explica: “Neste caso específico e em todos os demais, que envolvem maldições por consciências transcendentais, só há construção cocriativa e liberdade interior envolvidas na história de cada um. Cada um que se conscientiza do que lhe pertence na identidade que Comigo tem, sabe compreender cada evento a que se submete por com a Minha Pessoa se relacionar. De modo que quem precisa a alguém amaldiçoar, mesmo que a(o) ame, faz o que é necessário fazer para que a história que precisa acontecer possa concretizar-se. A consciência da Shakti se transforma através de tudo o que Lhe acontece e do que não posso nem Eu mesmo fazer parar. É compulsório e produtivo para Ela causar-se como se causa, de modo a do Meu lado para sempre ficar. E é essencial e sempre existente sua maneira de traduzir-se para o mundo, mesmo que seja através de algumas maldições. Pois, ao mundo também faz acontecer, assim como Eu faço sempre que com Ela traduzo-Me por meio das nossas íntimas relações”. ↩︎