Shiva Shakti Yoga Tantra: a dinâmica da vida

Introdução

Estudando Shiva, conforme o percebo, posso expressar-me sobre Ele. Tenho estado em profundo ato meditativo junto de Sua Pessoa. Descrevi muitas vezes o que sinto e penso em torno de eventos difíceis de explicar, mas intensos e contínuos o suficiente para que haja a certeza da sua veracidade.

Em muitos dos meus escritos, deixo claro que Shiva e Krishna são nomes da Suprema Pessoa. Afinal, “Krishna contém Hara, desde o ponto de vista Vaishnava, porém, Shiva contém Hari, desde o ponto de vista Shaiva[i]”. Ou seja, uns escolhem ver Deus a partir de determinado ângulo, outros escolhem a partir de um ângulo diferente.

Nós “temos a fé convicta e autorrealizada de que Harihara é Krishna e Shiva é Harihara[ii]”. Sem fragmentá-Lo, portanto, escolhemos apenas amá-Lo em qualquer uma das Suas formas. E ainda o vemos em ambas as polaridades de Si mesmo, a masculina e a feminina – Shiva Shakti.

Por saber que Shiva Shakti ainda é (são) pouco compreendido(s) no Ocidente, principalmente em países como o Brasil, escrevo um pouco mais sobre Ele(s). Faço isso enquanto o adoro no Seu mais grandioso dia – o MahaShivaratri.

 

Quem é Shiva

Seleciono trechos de um texto no qual o descrevo[iii]. Ele diz: “Shiva tem muitos nomes, sendo também chamado de Maheswara, Rudra e Shambo, dentre outras denominações. Ele é a Terceira Pessoa da Trindade ou Trimurti, segundo a descrição védica da Ciência de Deus”. Para conhecer esta Ciência é preciso muita aplicação e desprendimento de fórmulas mais bem conhecidas no Ocidente.

“Shiva é o agente da destruição ou aniquilação dos Universos, e está eternamente associado ao Quartênio original, no qual se mistura com o Supremo Criador, e se mescla com o feminino de Deus. Shiva existe em HariHara, que é metade Vishnu e metade Shiva, e em Ardhanarishvara, Deidade composta por Shiva e Parvati.

Ele é um asceta, o maior de todos os ascetas, e escolheu os Himalaias como local de residência. Veste uma pele de animal e usa outra como assento durante suas meditações”. Shiva faz isso para estimular a alma da pessoa humana a se espelhar em Seu comportamento, desapegando de suas excessivas necessidades materiais.

Mahadeva “tem na testa a marca da Trimurti, que também tem sido mencionada como um desenho que ele fez com as cinzas de três demônios que matou. As duas versões são corretas, pois não se excluem, se complementam. Entre as marcas de cinza da testa, está o terceiro olho de Shiva, onde reside o Fogo Sagrado da destruição.

As serpentes que se enroscam ao redor do seu pescoço são uma manifestação do Seu domínio sobre elas e sobre os venenos e as poções. A cor azul que está na Sua garganta é o sinal que ficou quando bebeu o veneno do Oceano de Leite que ameaçava aos semideuses.

Seu tridente também assinala a tríade criação/sustentação/destruição que existe na destruição em si, e constitui-se de um instrumento por ele utilizado para combater a tudo o que se faça contrário ao cumprimento do Plano Absoluto”. Por este motivo, o tridente é uma arma sagrada e ao mesmo tempo um aparato através do qual espalha Suas bençãos ao redor dos mundos.

Shiva se mostra recoberto com as cinzas que sobram da destruição que empreende quando da realização de suas tarefas. Eventualmente pode ser visto entre crânios humanos e esqueletos, pois controla as almas que se desencaminham (bhutas). Seu veículo de transporte é o touro Nandi e carrega nos cabelos à energia do rio Ganges, dando abrigo à Deusa Ganga em suas madeixas”.

As cinzas da destruição podem encobrir Seu corpo desnudo, pois Shambo nos ensina a viver uma vida simples, contando apenas com o que naturalmente se faz disponível para nós. Sua presença entre os restos mortais dos crematórios aponta-nos para o fato que devemos encarar a morte com espontaneidade.

Passatempos Transcendentais

Em Divindades das Religiões Indianas (2014) está descrito que “Shiva desenvolve muitos passatempos eternos, o que envolve seus dois casamentos, e o nascimento dos Seus filhos. Estes eventos estão além da escala do tempo material, e existem perpetuamente, tendo importantes significados dentro da história da criação e da destruição dos universos. Tal história se repete cíclica e continuamente além do espaço-tempo físico.

Ele se casa com Sati, filha de Daksa, um dos prajapatis (progenitores da humanidade), filho de Brahma. Mas, Daksa não fica satisfeito com este casamento e interfere desfavoravelmente com a mesma relação. Sati decide abandonar o corpo, durante um sacrifício de fogo (yajna) que seu pai realiza.

Shiva, irado, destrói a arena do sacrifício e corta a cabeça de Daksa”. Isto pode parecer dramático demais, porém compreenda-se que Daksa, devido ao acúmulo de feitos que lhe desfavoreceram perante as Leis Divinas, precisou ter este destino. Além do que, fazer parte do passatempo eterno do Senhor garante a ele muitas realizações espirituais acerca da divindade de sua filha Sati e do Esposo dEla – Mahadeva; e de si mesmo, portanto.

Após este evento, Shiva “decide então não mais se casar. Porém, devido à sua função co-criativa, Brahma e alguns semideuses fazem arranjos para que ele conheça e se apaixone por Parvati, uma encarnação de Sati.

Parvati (ou Durga) também tem muitas denominações, de acordo com as diferentes naturezas que assume a fim de cumprir com distintas atribuições.

Existem dez principais aspectos de Durga – as Dasa Mahavidyas-, e eles são associados a diferentes modos de ação da matéria. Há inúmeras adorações a estas emanações da Devi, as quais existem em uma gradação que abrange desde o aspecto mais grosseiro da qualidade material da energia feminina de Deus (Kali) até o mais sublimado (Kamala).

Todas elas pertencem à Mahamaya ou Ambika ou Narayani ou Lalita, dentre outras denominações. Cada um de tais aspectos desta gradação transporta determinados instrumentos de ação da Adi-Shakti (a energia feminina de Deus) para com a conformação da matéria que se dá a partir da Consciência Superior da Absoluta Pessoa”. Portanto, é desta forma que a energia feminina penetra em tudo o que se possa imaginar no mundo.

Ademais, “Shiva e Parvati têm dois filhos, Kartikeya e Ganesha. O primeiro comanda aos exércitos Celestiais, enquanto Ganesha é a Deidade da prosperidade e da bem-aventurança no lar e protetor das famílias e parceiro”.

“Ele é reverenciado e adorado em muitos Templos, e antes de se realizar qualquer outra adoração às Deidades principais de muitos santuários, adora-se à figura de Ganesha. Shiva é também pai de Ayyappa, outra Divindade, a qual nasceu do sêmen que Rudra derramou quando se apaixonou por Mohini, encarnação feminina do próprio Vishnu e, portanto, uma manifestação da unidade de Krishna (Shiva) com sua Shakti.

Rudra também se manifesta em meio aos eventos que envolvem a descida de Vishnu ao planeta como Rama, quando Hanuman se faz presente como uma encarnação de um aspecto de Shiva”. Neste caso, tem-se um dentre vários passatempos intercruzados de Shiva e Vishnu, de Harihara, portanto.

 

Alguns Ensinamentos

Em outro momento, pude escrever com Bholenath. Ele me outorgou muitos ensinamentos, os quais servem para instruir a humanidade e não apenas a mim mesma. Seleciono um pouco de tão profundos raciocínios que Shambo ao meu lado teceu. Dentre tudo o que Ele me disse, algumas lições que se sobressaem são:

“Por União Mística que se compreenda um estado de completa conclusão ou síntese do que se entende como sendo a contraparte que busca se unificar com a Contraparte que a unifica por qualificá-la como quem Consigo conseguiu se unir. Unir-se é Comigo para sempre estar, junto de meu pensar se deixar permanecer e ao que Eu sinto permitir-se também sentir”.

Desta forma, Ele está falando em União Mística com Deus, porém sem que se perca a identidade peculiar que se tem na relação com Ele. Isso é Shiva Shakti Yoga e/ou Tantra, o objetivo maior de tal relação. Viver para realizar à Sua Suprema Pessoa, enquanto quem o realiza, se autorrealizou.

Então, “a sensação da perfeita união transcendental só existe quando quem é efeito é também causa do que, por pretender se unificar, enfim, através de duas partes, se fez perfeição. Só que tal perfeição é possível apenas quando o que se une é igual e diferente ao mesmo tempo, sendo que o que difere entre ambas as porções as torna idênticas em sensação e mútuas em interação.

Só quem entende isso é aquele que já verdadeiramente experimentou do que considero o fim de toda união entre ambos os princípios, o feminino e o masculino, os quais, através do prazer, ao Grande Todo formou”.

Mais uma vez fica claro que os ensinamentos que Mahadeva ao mundo outorgou através da minha própria compreensão não se fundamenta na diluição do ser que o amou. Este ser o ama e amará para sempre de tão unido que existe para com Ele. Dentro disso, Shambo para mim falou:

“O que Eu penso é o que faz a tudo se fazer, segundo o raciocínio lógico que ao Todo sustém e a tudo faz haver. Sendo assim, quando pensa a algo deste mundo em uníssono com o que a faz Comigo interagir, está sim pensando aos eventos que a ele (o mundo) faz subsistir”. Com tais palavras, o Senhor de todos os mundos me fazia rever na minha própria consciência ao meu poder de cocriação com Sua Pessoa.

É assim que somos quando autorrealizados na nossa Divina Presença, livres e para sempre determinados a estarmos ao lado da Pessoa de Deus. Mais ensinamentos obtidos do diálogo de Shiva Shakti estão no artigo intitulado Diálogos com Shiva sobre Liberdade Espiritual.

 

Palavras Finais

Mais uma vez faço uso do que um dia já se escreveu, afirmando que: “Este Casal Divino – Shiva Shakti – deve ser compreendido na lógica da unicidade de todos os aspectos do Supremo Senhor, se manifestando a fim de dar movimento à realidade, ao proceder com a dinâmica que molda à vida.

A Dança Cósmica de Shiva, que é frequentemente acompanhada por Parvati, constitui-se nesta dinâmica, a qual é assegurada por meio dos ciclos de destruição. Tais ciclos existem para assegurar a sustentação da ordem que se dá através da criação.

A energia que é personificada em Maheswara é fundamental para a transmutação, e daí a importância da imagem, do humor e da energia dEle e de Sua Consorte para os mecanismos totalitários que contém a tudo o que existe. Tais aspectos de ambos vibram na forma do Shiva Lingam, que é adorado em muitos Templos como a Deidade que contém em Si a união das energias masculina e feminina de Deus”.

 

Referências:

[i] Obtido do livro Religião Bhagavata da Nova Era, de Shri Krishna (comentado por Shri Krishna Madhurya), Sétimo Raio – RJ, 2014.

[ii] Idem anterior.

[iii] Curso Divindades das Religiões Indianas, Templo da Fé Neo Bhagavata – RJ, 2014.

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