Krishna: como chegar até Ele?

Introdução

Muitas pessoas não sabem, mas Krishna é a Suprema Personalidade, ou seja, Deus em Pessoa. Infelizmente uma maioria esmagadora dentre os ocidentais perdem a oportunidade de conhecer esta maneira tão perfeita e bela de Deus se mostrar para a humanidade apenas por preconceito.

Preconceito do que? – alguns podem perguntar. E eu respondo: preconceito do que desconhecem e pensam pertencer a alguma cultura em particular que não lhes pertence.

Porém, Deus não está limitado a cultura nenhuma, Ele apenas se mostra de infinitas maneiras para agradar Seus devotos. Alguns gostam mais dEle de um jeito, outros gostam de um jeito diferente; e, desta forma, o Amado agrada a todos os gostos.

Para os que gostam, para os que sentem algum tipo de atração, embora não o conheçam muito bem; e até mesmo para os que sentem algum tipo de preconceito, escrevo estas linhas.

Krishna em Pessoa me orientou a escrever algo, o que se transformaria na minha oferenda a Ele no dia do Janmastami (de 2019)[1]. Então, comecei a escrever, decidida a falar sobre um assunto que sei que interessará a todos que tiverem inteligência suficiente para entender que Deus é sempre Um, não importa o nome através do qual Ele se defina para nossas compreensões.

Vou me referir a como chegar até Krishna. Sendo a Pessoa Suprema o objeto do desejo de muitas pessoas e tendo já a bem-aventurança de viver em intimidade eterna ao lado dEle, sei que posso contribuir com a caminhada daqueles que tenham coração puro e/ou vontade de, com humildade, depositar sua fé na mestria que por outro alguém já foi conquistada.

Aqui me refiro a aspectos do Seu carisma, doçura e beleza, os quais aparecem nas Suas lilas eternas ou passatempos transcendentais. São estas lilas infinitos portais, através dos quais, por meio de devoção pura e amor sem igual o alcançamos.

 

Infância de Krishna

Lila eterna é experiência de vida para quem está consciente ao lado de Deus, mesmo que se tenha ainda um corpo físico neste mundo material. Ela é a vida mais verdadeira e a fonte do significado da alma que dela faz parte.

Krishna aparece na Terra há mais de 5.000 anos, mas, sendo Ele eterna Pessoa, Seus passatempos são também eternos.

Cada um dos Seus associados, ou seja, cada um dos que estão ao lado dEle nestas lilas, o ama de uma forma em particular. Este amor reflete a maneira como o Amado em Pessoa nos vê. É Ele que nos pensa de um jeito específico e, conforme Ele nos pensa, vivemos de certa maneira ao Seu lado.

Quando Krishna aparece no mundo, filho de Devaki e Vasudeva, há uma turbulenta situação na cidade de Mathura (Índia) e adjacências. Seu tio Kamsa, o irmão de Devaki, tem mentalidade demoníaca e é jurado de morte pelos semideuses e demais hierarcas do planeta.

Enquanto Devaki é conduzida em sua caravana nupcial: “Endereçando-se a Kamsa, que segurava as rédeas (da carruagem dela), enquanto a caminho, uma voz incorpórea disse: Ó tolo! A oitava criança desta moça, que você está conduzindo, irá aniquilar você[2].”

Kamsa então persegue os filhos da irmã e os mata um a um. Mas, os dois últimos filhos dela são Balarama e Krishna, os quais são salvos e criados com segurança por Nanda Maharaja, sua esposa Yashoda e outra esposa de Vasudeva (Rohini).

Descreve-se que “Cantando às vezes no meio de um círculo de meninos vaqueiros e vestidos de maneira pitoresca com um vestuário ornamentado com folhas de manga, penas de pavão e cachos de flores, um par de lírios (como brincos), uma flor de lótus (na mão) e uma guirlanda (ao redor do pescoço), os dois irmãos pareciam um par de atores no palco[3].“

Krishna é a Luz dos olhos dos moradores de Vraja, não havendo um deles sequer que possa viver sem a presença dEle na vida. Portanto, para pensar em Krishna nesta fase de idade (a infância), é preciso haver amor profundo por Sua Pessoa, quem faz parte da vida daqueles que pensam nEle de um jeito impossível de não ser notado.

Com isso quero dizer que, para chegar em Krishna através desta parte da lila eterna é preciso amá-Lo como um dos residentes de Vrindavana o amam eternamente. Aquele que é infindáveis vezes mais belo do que qualquer beleza deste mundo externo em que vivemos.

É preciso desejar acima de qualquer coisa cuidar dEle, de modo a vê-Lo feliz e sorridente, correndo pelas pastagens, cuidando dos bezerros, roubando manteiga e sendo amado.

 

 

Partida de Vrindavana

Amar Krishna e deixar-se ser amado por Ele significa viver apenas para este Amor. É desta maneira que os associados dEle em Vrindavana vivem.

Quando, na Sua adolescência, Madhava anuncia que irá partir da localidade, o sentimento de desespero se alastra entre os residentes, como uma epidemia. Ninguém quer acreditar no que está acontecendo, como quando um sonho desfavorável vem e se deseja que ele acabe logo.

O Srimad-Bhagavatam descreve o estado das vaqueirinhas de Vrindavana quando Ele parte:

“Algumas tiveram o esplendor de sua fisionomia danificado pelos hálitos quentes gerados da agonia causada pela notícia; outras tiveram seus mantos e pulseiras escorregadios e suas tranças desfeitas. Ainda outras, que tinham as funções de todos os seus sentidos suspensas pelo pensamento concentrado em Shri Krishna, perderam a consciência do corpo físico, pois, se elevaram à realidade do Espírito[4]”.

É exatamente desta maneira que se deve viver, quando o que se deseja é aprofundar-se na relação com Madhava. Quem o ama sente que sua vida deixou de ter significado se precisa, por algum tipo de motivo, dEle se afastar, mesmo sabendo que é impossível perdê-Lo de fato.

No Bhagavad-Gita (8.14), Ele diz: “Arjuna, Eu sou facilmente alcançado por um yogi que está sempre desejando um relacionamento comigo e que constantemente se lembra de Mim, com a sua mente exclusivamente fixa em Mim”.

Por este mesmo motivo, os sentimentos eternos da vipralambha (sensação de separação) que animam o coração dos moradores de Vrindavana, devem se expressar no coração de quem o ama enquanto está no mundo da época atual. É preciso chorar em desespero por Krishna.

Só que este choro estridente e sentido precisa ser verdadeiro, sincero e puro. Madhava irá reconhecê-lo, reciprocando o sentimento amoroso com Seu devoto.

 

Esposas e Filhos

Depois de eliminar o inícuo Kamsa, re-estabelecendo a paz provisoriamente entre os residentes de Mathura, Krishna desenvolve Seus passatempos de Esposo e Pai.

Existe um número sagrado, que é 16.108, o qual se refere às infindáveis amadas dEle, Suas esposas. Muitos acreditam que elas sejam diferentes das gopis de Vraja, com as quais a Suprema Personalidade costumava se divertir em humor de doçura conjugal (madhurya) na sua adolescência.

Mas, na verdade, no âmago desta longa e eterna história, sei muito bem que para cada esposa existe uma gopi. Tratam-se elas de duplos espirituais das mesmas almas que o amam para sempre em humor de consortes. Krishna reciproca, porém de um jeito diferente para com as gopis e as esposas. Afinal, as esposas contraem matrimônio com Ele.

De qualquer forma, reconhece-se que a doçura conjugal de Krishna com as gopis, dentre as quais, Radha é a principal de todas, é ainda mais doce do que a relação dEle com as esposas.

Em todos os casos, as consortes desmancham-se de amor devotado pela Pessoa de Deus. Este amor é a fonte do amor que as mulheres deste mundo onde estamos sentem pelos seus consortes. Porém, o amor das esposas por Krishna é puro e sem desvios, enquanto o amor que existe no meio do mundo material costuma estar cheio de impurezas.

O Srimad-Bhagavatam (10.90.14) descreve que as esposas “absortas em pensarem no seu Senhor de olhos de lótus, permaneciam sem fala alguns instantes”, para então, repentinamente “irromperem em palavras incoerentes de modo semelhante a lunáticas. Na intensidade do seu amor, elas (de tempos em tempos, experimentavam dor excruciante de separação do seu Senhor, mesmo na Sua presença e) paravam com suas falas delirantes”[5].

Elas são mães dos filhos e filhas do Senhor Supremo, dentre os quais, há inúmeros grandes guerreiros, cheios de feitos heróicos. As filhas são todas prendadas e belas como as mães.

Krishna vive com Suas famílias na cidade de Dwarka, que na verdade é uma ilha. Para amá-Lo no bhava (humor) de esposa é preciso devotar-se por completo ao serviço dEle, o que envolve Seu prazer em doçura conjugal. Para amá-Lo no humor dos filhos(as) deve-se adorá-Lo também como o Mestre e Senhor, que ensina tudo o que se sabe acerca da vida.

Deus, o Pai é inúmeras vezes mencionado pelo Mestre Jesus em seus ensinamentos. Portanto, a congregação cristã sabe muito bem o quão renunciado é preciso ser para alcançá-Lo.

Mas, para amá-Lo como as gopis o amam é preciso ainda mais renúncia. Afinal, elas deixam seus lares e famílias continuamente, a fim de ir buscar por Seu Amado. Esta é uma grande diferença que há entre ser esposa e ser gopi de Krishna. A busca desesperada pelo Amor dEle tem como recompensa Sua recíproca intensidade amorosa.

 

Amizade com Arjuna

Krishna expõe bastante Sua amizade com Arjuna ao falar o Bhagavad-Gita para ele. Esta amizade é pura e infinita, encontrando concorrência apenas na pessoa de Balarama.

Como já se comentou na parte que descreve a infância de Madhava, Ele e Seu irmão, Balarama, são salvos das atrocidades de Kamsa contra os filhos de Devaki. Eles são levados para Nanda Maharaj, sendo criados na zona rural de Vraja.

Depois os dois vão juntos para Mathura e Dwarka. Portanto, Balarama está sempre com Krishna, sendo Seu irmão e inseparável amigo. Arjuna é primo de Krishna e também amigo do Seu coração.

Ele e seus irmãos, os Pandavas, lutam contra o mal e conseguem, sob a direção da Suprema Pessoa, retomar o reinado de Hastinapura. É na batalha de Kurukshetra que eles destróem seus inimigos e retornam ao seu reinado original. É ali também que Krishna fala o Bhagavad-Gita.

O Senhor diz para Arjuna: “Aquele muito antigo yoga foi por Mim falado para você hoje, porque você é meu devoto e amigo. Trata-se de um supremo segredo[6].”

Portanto, quem buscar por Ele, tem que aprender os significados dos versos por Sua Suprema Pessoa recitados mediante Arjuna. Além do que, é preciso ter plena fé que estes versos foram falados realmente por uma Pessoa e que esta Pessoa não é apenas uma energia sem forma e/ou a consciência de cada um falando para si mesmo.

Os versos do Bhagavad-Gita são falados por Deus para Arjuna. Quando Ele os fala, está ensinando a humanidade através da escuta do Seu amigo íntimo. Somente por meio desta compreensão, se faz possível amar Krishna enquanto Pessoa.

 

 

Idade Madura

Acontece que esta Pessoa um dia termina Sua estadia no planeta, o que se dá quando a Era de Kali está começando a despontar. Kali Yuga é o período em que a humanidade se afasta demais dEle e volta-se para si mesma. Muitas tendências egoístas predominam entre as pessoas, de modo que a maioria só pensa em suas próprias necessidades.

Quando os sinais da entrada desta Era despontam, Krishna se prepara para sair do planeta. Mas, antes disto, Ele vive ainda mais uma lila eterna, a qual conheço com clareza.

Poucos sabem do que eu sei, mas escrevo sobre esta parte dos passatempos dEle em um livro[7]. Ali vê-se o Amado transferindo ensinamentos a Udhava, como quando Ele diz:

“O ser individual (jiva) é parte integrante de Mim, ó muito inteligente (Uddhava); e tem-se mantido cativo por tempos imemoriais, podendo libertar-se através do conhecimento[8].”

Também existe uma parte da sagrada lila que por enquanto permanece velada para o ser humano desta época. Mas, é possível acessá-la, desde que se tenha humildade suficiente para dar-se abertura ao coração, de modo a preenchê-Lo daquilo que apenas Krishna (e eu, ao lado dEle) pode(mos) fornecer através do sistema filosófico-religioso da Fé Neo-Bhagavata.

Digo ainda que, além de humildade, deve haver abertura da mente, leveza e coragem. Coragem para enfrentar as contracorrentes da mente humana desta época, as quais querem negar o que desconhecem e/ou que lhes parece difícil de alcançar.

Além do que, a lila de Madhurya Dwarkadisha, o Casal Divino em Prabhasa, por enquanto, eu garanto que é para raras almas, muito raras. Isto porque, para chegar até o Senhor Supremo no Seu retiro em Prabhasa é preciso passar por uma triagem muito fina.

Esta triagem exclui os que ainda cultivam qualquer tipo de impureza no coração.

 

Saída do Planeta

Tendo finalizado Suas lilas, Krishna deixa o planeta e volta para o lugar de onde na verdade nunca sai – o Plano Transcendental. Ele está sempre vibrando neste plano ou dimensão. Sendo assim, para alcançá-Lo é essencial entender o que significa transcender.

Muitos são os que pretendem viver a vida conforme ela está sendo para eles há muito tempo. Entre estes, há milhares de pessoas no planeta desta época que negam a realidade não material.

Obviamente que a primeira coisa a se vencer é a incredulidade, para então poder-se travar contato com as ideias do Senhor Supremo e Suas lilas pessoais.

O Mahabharata (16.4) descreve que, quando Shri Krishna saiu do planeta, o “Céu se preencheu do Seu esplendor” e todas as “deidades o saudaram”.

“Timbales soaram e flores caíram dos Céus, enquanto a Veracidade, o Dharma, a Fidelidade, as Glórias Divinas e a Verdadeira Beleza deixaram a Terra junto com Ele[9]”.

Quando Krishna sai do planeta, todos Seus associados mais íntimos também saem. Afinal, não há vida para nenhum deles (nem para mim, inclusive) sem que haja Madhava por perto. Não há um sentido em se lutar sem que haja um porquê de fazê-Lo e este porquê é Krishna quando a luta que travamos existe no nível da nossa consciência mais pura.

Nesta parte dos passatempos eternos, a Pessoa de Deus atrai para Si aqueles que o amam. Quando Ele assim o faz, Seus mais amados perdem completamente o interesse em ficar no planeta.

É assim que alguém que queira alcançá-Lo tem que agir, desvencilhando-se de qualquer outro interesse que não seja Krishna. Quanto a isto, Ele mesmo nos diz:

“Sabendo que Eu sou o receptor de todos os sacrifícios (yajna) e penitências, o mestre de todos os planetas, e o bem-querente de todos os seres viventes, uma pessoa alcança a paz[10]”.

 

Últimas Palavras

Sei o quão vagas podem ser palavras sem a vivência do que elas significam. Estou ciente que uma pessoa só se autorrealiza, transformando seus sentidos em compreensão vivenciada do que eles representam para si mesma diante da vida e de Deus.

Sendo assim, o que aqui se escreveu não deve ser tratado como alucinação ou como algo que se pode aprender sozinho. Há muitas regras a se treinar, a fim de se alcançar um estado de consciência propício a travar o tipo de contato com Deus sobre o qual aqui me refiro.

Tenho visto muitas confusões de pessoas que desconhecem a veracidade profunda e perfeita das escrituras mais sagradas da Índia.

Há todo tipo de confusão entre os(as) adeptos(as) da chamada Nova Era e eu mesma sou uma delas. Mas, deixei de confundir-me, desde que Krishna, Ele mesmo, enquanto Suprema Pessoa, me tomou pelas mãos e me ensinou o que sei a respeito de Sua Divindade Absoluta.

Sendo assim, Krishna é meu Mestre Espiritual também (meu Gurudeva), além de ser meu Consorte muito Amado. Tenho experimentado muitas lilas ao lado dEle e o conheço como poucos neste mundo de Kali Yuga (isto eu posso garantir).

Ofereço aos interessados meus sinceros préstimos ao Amor consagrado à Pessoa dEle por qualquer pessoa que queira viver uma experiência com Deus neste humor – de Krishna, tão adorado.

Obs.: A primeira imagem pertence à Deidade de Shri Keshava do nosso Templo; e as demais imagens foram obtidas em pixabay.com.

 

Referências:

[1] Janmastami é o dia do aparecimento de Krishna no planeta, quando Ele vem à Terra realizar seus passatempos transcendentais e re-estabelecer o dharma (o estado de religiosidade do mundo). Esta data é astrologica e anualmente calculada, segundo as condições das estrelas, do sol e do planeta, sendo intensamente comemorada pelos devotos dEle.

[2] Srimad-Bhagavatam 10.1.34.

[3] Srimad-Bhagavatam 10.21.8.

[4] Srimad-Bhagavatam 10.39.14-15.

[5] Trecho conforme apresentado no livro Madhurya, a Rasa da Doçura, de Shri Krishna Madhurya (2015).

[6] Bhagavad-Gita 4.3.

[7]  O livro é “Mística da Experiência Religiosa Transcendental”, Editora Sétimo Raio – RJ, 2019.

[8] Srimad-Bhagavatam 11.11.3

[9] Srimad-Bhagavatam 11.31.7

[10] Bhagavad-Gita 5.29.

 

 

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