Vença as suas Batalhas: o Bhagavad-Gita Ensina Como

Introdução

O Bhagavad-Gita foi falado pelo Senhor Krishna há mais de 5.000 anos. Ele é uma escritura religiosa com origem Indiana, porém com enorme aceitação no mundo todo. Existem muitas maneiras de interpretar os seus significados.

Aqui apresento um tratamento a uma parte do conteúdo dele que não é propriamente religioso. No entanto, a forma de compreender esta canção (gita) do Senhor (Bhagavan) é compatível com a religiosidade da obra.

Porém, procuro dentro dela o que possa conduzir os pensamentos para o tema deste artigo. Ou seja, escrevo para quem quer vencer algum tipo de batalha. E sei, como você também sabe, que todos temos batalhas a vencer. Então, vamos aos fatos.

 

Observe seu Campo de Batalha

Este é um ponto importante da tarefa de vencer uma batalha. É preciso saber o que está ao redor, conhecer os fatos e visualizar estratégias.

No caso do Bhagavad-Gita, há uma guerra em andamento. Arjuna pede a Krishna que conduza sua quadriga até uma posição de onde pode ver os dois exércitos combatentes. Ele não se sentia a vontade com aquele combate. Krishna sabia disto, mas o impulsionava a superar suas lamentações.

A guerra destruiria membros de uma família, bem como amigos e conhecidos da mesma. Arjuna, então, “ao pecado de matar seus mestres, pais, tios e outros parentes enfatizou, questionando: porque eu deveria querer mata-los, mesmo que, por sua parte, eles sejam capazes de matar-me?”[1]

Krishna estava compassivo. Mesmo assim, sugeriu que Arjuna abandonasse as fraquezas do coração. Ele o lembrou que, como guerreiro, tinha o dever de lutar; e como protetor do bem, precisava aniquilar o mal.

O próprio Senhor Krishna tentara dissuadir o exército oponente ao de Arjuna a eliminar a discórdia que dera origem àquela batalha. Mas, por serem arrogantes e orgulhosos, tais guerreiros não aceitaram seu pedido de paz.

Agora Krishna instruía Arjuna momentos antes da guerra começar. Suas instruções fazem aquele que é fiel aos seus princípios, assumir a dureza das tarefas a realizar.

Suas palavras nos ensinam que, mesmo que algo a fazer nos pareça difícil e penoso, a fim de cumprir com nossos compromissos, temos que saber superar nossos medos e incertezas. Afinal, tanto a felicidade quanto a aflição são temporárias. Se aprendemos a tolera-las, tendemos a tornarmo-nos mais estáveis.

Krishna ainda diz: “O eu (ou alma) nunca nasce nem morre, nem virá a ser, i.e. não nascerá de novo depois de haver nascido. Ele é não nascido, eterno, imutável e antigo. Ele não é morto quando o corpo é morto[2]”.

Sendo assim, não é válido lamentarmo-nos pelo que ainda está a realizar-se e/ou a destruir-se. A vida vem e passa. Temos que aprender a viver cada momento sem temor do que virá a passar. É através dos confrontos que a vida nos ensina. Desta forma, não fujamos deles.

 

Crescer em Desapego

O desapego é algo que nos faz mais fortes para buscarmos por vitória. É através dele que lutamos apenas por precisarmos cumprir com nossos compromissos. Esta deve ser a principal alavanca que nos impulsiona a lutar arduamente para vencer.

É preciso deixar-se fluir através da correnteza dos eventos que nos levam em direção ao lugar onde temos que chegar. Quando compreendemos que tudo vem para nós conforme nossas necessidades, aceitamo-nos muito mais.

Ao aceitarmo-nos, tornamo-nos mais encorajados e nossa autoestima se eleva. O Senhor Krishna nos ensina que:

“A vida é para ser vivida com a plena convicção de que tudo o que é necessário que alguém realize se faz perante os sentidos e o raciocínio. Da mesma forma, os meios para que se possa executar o que é preciso também se fazem”[3].

Temos que viver a vida com a intenção de realizar aquilo que nos cabe cumprir. Não se deve permanecer em condição de inércia ou apatia perante as dificuldades. “Portanto, realize suas ações obrigatórias, pois a ação é superior à não ação. Sem ação, você não pode nem mesmo manter seu corpo” – Krishna diz para Arjuna[4].

A alma tem etapas a cumprir e cada pessoa precisa descobrir suas etapas. Dentro delas, temos tarefas a realizar, as quais podem ser muito diferentes das tarefas que os outros têm que realizar. Sendo assim, ocupemo-nos com nossas próprias coisas a fazer.

Já que “a alma está vivenciando aquilo que deve vivenciar porque suas oportunidades são lhes abertas por suas próprias necessidades de interagir com eventos ou aspectos da complexidade dos movimentos dos universos que a contém”[5].

Portanto, temos que nos esforçar para não criarmos aversão, nem apegos por nada desta vida. Quando focalizamos no que temos a fazer, sem preocuparmo-nos com os resultados que desejaríamos obter, fluímos em paz através das experiências.

É preciso compreender que tudo está no lugar onde deve estar, se assim permitamos observarmo-nos e ao nosso campo de batalha.

 

A Paz de Fluir através das Experiências

Quando entendemos enfim que é preciso fluir sem apegos ou aversões através da vida, começamos a deixar de lado certas coisas. Em geral, desistimos de tentar correr atrás do que não é estrategicamente vantajoso para nós.

Dentro disto, às vezes mudamos até nossos gostos por diversão. O que antes nos atraía pode passar a perder a importância. Deixando fluir o que é preciso, fazemos novas descobertas.

E o mais importante de tudo, é que percebemos que quanto mais nos dedicamos a fazer o bem e a cultivar à paz, mais pacífico se torna o meio onde estamos. Desta forma, as batalhas que temos que encarar podem até ser difíceis de vencer, mas é possível conseguir trava-las na paz de espírito interior.

Pacificando-nos, abrimo-nos para compreender o que está além das aparências externas. O Senhor Krishna diz:

“Com a mente e o intelecto rendidos, pela prática da meditação, mantendo a mente e a inteligência sem serem desviadas, deve-se pensar naquele que é luminoso como o sol e transcendental à escuridão”[6].

Este ser é Deus, consciência pura e absoluta. Fluindo através da vida, podemos compreendê-lo melhor.  Compreendendo a Ele, entendemos quem nós somos. Isto nos fortalecerá ainda mais.

Fortalecemo-nos na medida em que conhecemos um estado da consciência no qual há saciedade de tudo. Ou seja, ao tomarmos ciência desta outra maneira de viver, desenvolvemos mais coragem para lutar pelo cumprimento dos nossos deveres, pois, sentimo-nos seguros.

O Senhor Krishna afirma: “O foco em torno de um objeto de adoração conduz àquele que adora ao que lhe serve de objeto e, portanto, de foco de suas intenções”[7].

Sendo assim, tenhamos a experiência da vida como nosso meio; e o achado principal desta experiência como a meta. Este achado é exatamente a pureza da compreensão de Deus, o que é o verdadeiro objetivo do Yoga.

 

Encontrando a Vitória

Shri Krishna continua: “Eu sou o começo, o fim e o meio das criações, Ó Arjuna. Entre as ciências, Eu sou a metafísica, e eu sou o processo de raciocínio conclusivo dos debatedores”[8].

A Consciência Absoluta é assim, livre para dar origem e proceder com a criação. Ao mesmo tempo, embora flua com simplicidade, é a mais complexa das ciências – a metafísica. Portanto, ela é a conclusão de todos os debates ao mesmo tempo.

Embora tudo isto possa ser confuso para o observador humano, trata-se de um conhecimento que nos enriquece. E o enriquecimento do qual estou falando é de um tipo mais duradouro do que o normal entre as riquezas.

Além do que, ele nos preenche da compreensão de que temos tudo o que precisamos para realizar com nossos compromissos, desde que eles sejam verdadeiros. Compreendendo isto, lutaremos com segurança, tendo sempre em mãos as armas mais eficazes para cada inimigo.

Afinal, “melhor do que a prática  (do conhecimento) é estar consciente de Mim (a Absoluta Consciência); e melhor do que estar consciente é meditação, porque pela meditação se renuncia aos frutos das ações, e pela renúncia se alcança a paz”[9].

Meditar significa silenciar para as provocações do campo de batalha, enquanto deixar-se fluir através da vida. A renúncia aos frutos aumenta nossa coragem, porque já não nos preocupamos com os resultados do que estamos fazendo.

Desta forma, pacificamos nosso coração. Um coração pacífico nos permite avaliar com mais critérios a realidade ao redor. Fazendo isto, somos mais propensos à vitória, o que nos vem da Fonte que nos sustenta e promove às ações que nos são necessárias.

Aprofundando tal questão, o Senhor Krishna explica sobre a árvore da vida, a qual contém toda entidade viva nela inserida. As raízes dela estão em Deus, as folhas contém todo conhecimento; e “o amadurecimento nesta árvore é a própria autorrealização da criatura humana”[10].

Acontece que as pessoas se perdem desta grande árvore e desenvolvem apegos e sonhos, que às vezes nem são estratégicos como parte da batalha em que cada um tem que travar. Mas se voltamos a enxergar o que somos dentro dela, estaremos mais alertas no campo da experiência.

Desta forma, venceremos qualquer batalha, seja ela de um tipo ou de outro. Trata-se de uma fórmula básica, a qual foi aqui tratada suscintamente. Quando ela é aprendida, não se a perde mais e quem a aprendeu torna-se vencedor em qualquer situação com a qual se envolva.

Este é apenas um recorte dos raciocínios que o Bhagavad-Gita suscita. Infindáveis outros recortes podem ser feitos, a fim de encontrar-se explicações para outras questões da existência. Fica aqui, portanto, uma dica para quem quer dominar-se e à vida.

 

Referências:

[1]  Capítulos 1 e 2. Observando o campo de batalha e as primeiras instruções. In: Curso de Bhagavad-Gita, Sétimo Raio – RJ, 2013.

[2] Bhagavad-Gita 2.2

[3] Capítulos 3 a 5. Karma Yoga, renúncia dos frutos da ação. In: Curso de Bhagavad-Gita, Sétimo Raio – RJ, 2013.

[4] Bhagavad-Gita  3.8

[5] Capítulos 3 a 5. Karma Yoga, renúncia dos frutos da ação. In: Curso de Bhagavad-Gita, Sétimo Raio – RJ, 2013.

[6] Capítulos 8 e 9. Volta ao Supremo. In: Curso de Bhagavad-Gita, Sétimo Raio – RJ, 2013.

[7] Capítulos 8 e 9. Volta ao Supremo. In: Curso de Bhagavad-Gita, Sétimo Raio – RJ, 2013.

[8] Bhagavad-Gita 10.32

[9] Bhagavad-Gita 12.12

[10] Capítulo 15. Autorrealização e a Morada Eterna. In: Curso de Bhagavad-Gita, Sétimo Raio – RJ, 2013

 

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