Religião Neo Bhagavata: abordagem filosófica

Os presentes trechos integram um conjunto de escritos, cujo teor sagrado está nas suas origens e na forma como eles foram originados. Eles foram extraídos do livro escritural da denominada Religião Neo Bhagavata, a qual nasceu de inúmeras experiências transcendentais de Shri Krishna Madhurya, Shri Dauji Kana-Vanashaya e os devotos que se congregavam ao Templo naqueles anos lineares. Trata-se de uma série de comentários de Shri Krishna e explicações de Shri Krishna Madhurya, tudo muito profundo e divino.

Seguem os trechos e seus aprofundamentos.

Deus e a alma individual

Shri Krishna: O Absoluto Pensar somente Eu posso articular, e a alma que Me conhece é aquela que se faz pensar como quem se articula porque está em Mim. No entanto, apesar de em tudo estar, Eu estou além de qualquer uma das partes que contenho, sendo assim, nenhuma delas Me contém. As partes estão no Todo e o compõem, mas, apenas o Todo as dá significado. Então, a pequena fagulha do Meu próprio Ser, que existe porque está em Mim, não Me atém, exceto se assim à nossa relação o compreender.

Shri Krishna Madhurya: Deus é o Onipotente e Onisciente Senhor, e todos os pensamentos que o ser humano articula se fazem porque o Absoluto Pensar está articulando às Leis. A Suprema Legislação controla espontânea e continuamente o pensar individual de cada uma das almas, as quais são fagulhas deste Ser Completo, que é a Suprema Pessoa. Ela contém a perfeição e, por contraste com a mesma, o que se faz, sente ou pensa através das cadeias de mundos, povoados pela humanidade, mostra-se coerente ou não. Tudo adquire seu significado a partir da Fonte Maior, sendo assim, é preciso haver consciência deste fato por parte da pessoa humana.

A alma individual é uma fagulha do Fogo Sagrado de Deus (Krishna ou Hari, Krishnashiva ou Harihara, Shiva ou Hara) e, portanto, Ele, que é o Senhor Absoluto, contém, em seu Pensar, a todo o Plano ao qual a alma está natural e originalmente submetida. Para haver autorrealização verdadeira, ela precisa reencontrar com sua Fonte, percebendo-se como sua parte e, ao mesmo tempo, a Ele como a Onipotente e Onisciente consciência que a tudo contém, inclusive a si mesma. Assim percebendo-se, a alma muda seu processo de existência, tornando-se receptiva para com o Supremo Pensar, e aceitando com naturalidade apenas o que lhe pertence e nada mais ansiando para obter.

Shri Krishna: A alma individual é algo em particular, sendo única e ao mesmo tempo igual a todas as demais, já que é, em essência, parte do que não pode se fragmentar. Ela se percebe como permanente porque se ilude enquanto toca a materialidade da vida em meio às atrações sociais. Suas teias de compromissos a fazem estar ausente de sua verdadeira identidade, o que somente pode voltar-lhe à compreensão quando, enfim, puder se aprofundar no que irá lhe escapar à inferior razão da linear mentalidade.

Shri Krishna Madhurya: Todos são iguais para Deus, em sua importância e valor, apesar das diferentes peculiaridades inerentes ao ser pessoal de cada um. Tais diferenças causam, no entanto, distintas formas de com Ele, enquanto Pessoa, se relacionar. A vida na Eterna Morada, onde o Senhor plenamente predomina, é repleta dos passatempos transcendentais dEle e de seus associados, os quais são distintas personalidades, todas autorrealizadas em seu Amor Puro por esta Suprema Pessoa. Em essência todas elas são unas com Deus, porém, na interação pessoal com sua Fonte, cada qual mantém sua especificidade, porque Ele assim está pensando suas relações com os que pensam e sentem de maneiras diferentes à sua Suprema Condição.

Criadas pelo ato de Pensar do Controlador de todos os mecanismos, as entidades viventes se envolvem com o que lhes cabe realizar, no entanto, ao distanciarem-se de sua Fonte, arriscam-se a perder-se em meio à ilusão de uma vida pessoal que lhes pertence. De fato, há um pertencimento, mas, que fornece plenitude quando atrelado à Pessoa de Deus. A vida só se estabelece em perfeita harmonia e se faz plena de significado quando quem a experimenta vive completamente absorto em pensamentos e emoções de Amor por Aquele a quem a vida verdadeiramente pertence.

A razão linear da mente humana não consegue articular raciocínios coerentes e abrangentes o suficientes para que haja realização de Deus. Desta forma, alguns pretendem acreditar que Ele é por demais abstrato para ser compreendido. Outra forma de percebê-lo aponta seus três aspectos, através dos quais, a mente se encaminha para uma melhor compreensão do Senhor. Tem-se: (1) Bhagavan, a Pessoa de Deus ou Suprema Personalidade, com a qual todas as outras pessoas podem se relacionar; (2) Brahman, a refulgência ou brilho do Senhor, que a tudo permeia e, portanto, pode ser sentida e experimentada através de vivências transcendentais; e (3) Paramatma, a presença de Deus em cada um dos corações, a qual é precisamente a maneira de ser dEle para com a alma em particular, segundo a peculiaridade de cada um.

Desejo da Alma por Liberdade

Shri Krishna: Ao se abrir para tentar, através de diversas estratégias, à sua vida interpretar, ela pode Comigo voltar a se relacionar. Esgotada de tanto ter que caminhar por estradas tortuosas, repletas de barreiras e dificuldades, sua vida a leva a procurar por algo superior que possa a libertar do que jamais a satisfará. Terá que se esforçar para vencer ao que se impõe, contra sua vontade, como tormentos e indefinições que a farão cansar ainda mais de ter que continuar vazia de sentido e direção, vivendo, muitas vezes, apenas por viver.

Shri Krishna Madhurya: Os três aspectos de Deus virão a ser realizados pela alma que se libertar das teias de samsara ou ciclos de nascimentos e mortes. Mas, apenas a experiência de Bhagavan fornecerá a felicidade eterna de se estar ao lado dEle, relacionando-se com sua Pessoa de uma maneira bem peculiar. Para se libertar de samsara é preciso perceber que as necessidades materiais não merecerão se perpetuar, porque elas limitam o ato de existir ao mundo mais denso, onde as mesmas necessidades podem ser satisfeitas. Os eventos deste mundo são cheios de satisfação e insatisfação, contrastes e contradições e, portanto, irão gerar tanto alegria quanto dor. Quem deseja se libertar de tais oscilações precisará transcender aos padrões de pensar, sentir e ser típicos dos mundos materiais.

Chega um momento na vida espiritual em que a alma anseia por se libertar, o que coincide com vivências, que gradualmente se amplificam, de natureza espiritual. Um gosto superior começa a se expressar e o desejo de abandonar samsara se pronuncia, o que de maneira alguma pode ser forçado em ninguém. Há um tempo para cada evento acontecer na vida individual, porém, compreenda-se que, por aplicação do livre-arbítrio, alguém pode se apressar, enquanto outros retardarão seus movimentos em direção ao Sagrado Conhecimento e à sua prática. Como Shri Krishna coloca acima, será preciso se esforçar para vencer as tormentas e indefinições, e não se deixar viver apenas por viver.

Com viver apenas por viver o Senhor quer designar a maneira de ser e de estar da pessoa humana que, esquecida de sua natureza espiritual, esquece-se de procurar por avanço no processo de engrandecimento da consciência. Fagulhas deste tipo preferem ignorar às Supremas Leis e nunca buscam se aprimorar em torno de nenhuma de suas habilidades. Elas se mantem, vidas após vidas, imersas na teia de ilusão (maya), completamente esquecidas de Deus, ou seja, de sua origem e de seu fim. Vivem por viver, porque apenas buscam subsistir, sem nem ao menos terem algum ideal ou algum tipo de interesse específico em termos de evolução espiritual.

Shri Krishna: Quando aquele que se volta para a busca pela mais plena das compreensões, finalmente encontra aquilo pelo que busca, se desvinculará do que não pode mais o satisfazer. Seus vínculos e elos anteriores se extinguirão, pois, gradualmente, sua consciência para Mim se voltou. Laços de amor irão se estabelecer entre quem desta forma promove-se a mundos superiores, emergindo da desqualificada condição que pode à alma aprisionar a cadeias de existência inferiores.

Shri Krishna Madhurya: O achado definitivo é inigualável, e seus efeitos sobre a consciência não podem ser comparados ao que descobertas provisórias oferecem. Este é aquele que revigora a alma, fazendo-a experimentar a sensação de retomada do que já conhecia antes, mas, que, porém, esteve esquecido enquanto ela ainda se regozijava com a matéria e suas ilusões. Tal achado é a redescoberta de um caminho seguro e consistente que, com convicção, a pessoa escolhe para si mesma, a fim de dar-se acesso a Deus e sua Eterna Morada. Ao encontrá-lo, tudo mais perde o significado que existia para a mente que se encontrava condicionada a acreditar no que sua sociedade pensa ser melhor e mais favorável para uma pessoa dita “normal”.

Elos de amizade e de outros tipos de comprometimento entre dois ou mais indivíduos, quando ausentes da mesma conexão com o Senhor Supremo, deixarão de atrair aquele que está se redescobrindo à medida que renova sua relação com a Fonte de todas as descobertas. Elas o conduzem à renovação de seus laços de amizade, porque tal pessoa irá sentir necessidade de se associar com quem pensa e/ou sente como ela. Estando seus sentimentos e raciocínios gradual e continuamente mais e mais voltados a Deus, é natural que busque congregar-se com aqueles com quem afiniza, de modo que as relações anteriores não o satisfarão mais.

Emancipação da alma

Shri Krishna: O processo gradual da consciência que se liberta pode a levar a contato travar com os planos celestiais, onde infindáveis seres avançados em Conhecimento Transcendental encontram-se, povoando a muitos mundos que estão em diferentes condições, mais adequados do que os que são meramente materiais. Em tais mundos, há Hostes de servidores sinceros e devotados ao que pode ajudar a iluminar àqueles que ainda da materialidade dos desejos não se libertaram. O contato com eles, embora seja adequado para algumas almas, conforme sua natureza e atribuição dentro da Grande Ordem, precisa ser entendido como temporário, pois, somente é definitivo o estado da alma que alcançou Minha Eterna Morada.

Shri Krishna Madhurya: Há muitas esferas intermediárias, entre as regiões plenetárias, que se caracterizam por condições vibratórias e de consciência semelhantes as que abrigam à Terra. Tais esferas estão situadas em um conjunto de moradas, as quais podem ser identificadas como celestiais. O Céu é uma situação bem favorável para a alma que está em processo de busca por vida sublimada e liberdade espiritual. No entanto, tais regiões, onde a pessoa humana estará apta a transitar, desde que tenha acesso aos seus corpos superiores, precisam ser compreendidas como escalas transitórias. A Vida Eterna está na Morada de Deus, o Plano Absoluto, que somente pode ser alcançado por aquele que ascensiona na consciência até o mais elevado patamar da consciência, o Sétimo Plano.

Shri Krishna: Aquele que me alcança muda de conformação existencial, porque abandonou a imperfeita condição que o distanciou de Sua Fonte enquanto se manteve alheio ao mundo transcendental. Esta mudança lhe será fundamental, para que avance rumo à sua forma original, e quando atingi-la não voltará mais a se enganar porque estará em eterno contato com as Minhas Leis. A aplicação das mesmas se torna espontânea e natural para quem, desvinculando-se do que aprisiona à alma nas teias dos desejos materiais, deixa-se estar sempre Comigo em todo e qualquer lugar.

Shri Krishna Madhurya: Alcançar a Deus elimina por completo a indecisão e o medo que são comuns entre os que querem encontrar o que ainda não sabem definir ao certo do que se trata. Quando alguém o atinge, morreu para o mundo material, ou seja, não mantem os mesmos tipos de vínculos que, em geral, aprisionam a alma às teias cármicas da existência. Tal grau de liberdade se faz porque a pessoa se desvencilhou de interesses e necessidades que pertenciam ao ego inferior, enquanto avançou em seu processo de sublimação, o que a levou a conhecer sua forma original, ao nível da Divina Presença. Este aspecto do ser mantém contato Sagrado e Eterno com as Leis de Deus e, portanto, é o legislador de si mesmo, já que se deixa reger plenamente pelo que lhe vem da Mente Maior, de Krishna (Keshavashiva) ou Shiva.

O ascensionado e liberto ser está sempre consciente do que é artificial e imposto para a vontade de quem se deixa influenciar por artifícios e imposições. Desta forma, ele sempre consegue abstrair das sensações inferiores do mundo, e permanece iluminado e santo mesmo enquanto tenha que estar no meio do campo das experiências materiais. Assim o fará, se necessário for, no entanto, ao longo de sua permanência neste mundo, haverá de realizar muitas tarefas, todas voltadas à elevação da alma humana. Ele está lúcido e sereno, pois, autorrealizado, convive com Deus direta e continuamente, sem que seu estado de consciência seja interrompido em nenhum momento.

Shri Krishna: A Eternidade dilui a impressão do que ilude os sentidos, e promove a intenção de apenas Comigo estar e, então, aflora o Amor mais puro que se pode experimentar (Prema), recíproco e sem fim, entre a alma e seu Criador. Tal sentimento profundo e sincero fará com que aquele que o sente e o vive se entregue completamente ao Serviço Devocional, absorvendo-se em felicidade eterna e bem-aventurança transcendental (sat-cit-ananda). Ela, enfim, se libertou, voltando à Fonte que é também o Fim de tudo o que na vida vivenciou, e não haverá de sofrer mais as reações que as teias da existência material impõem aos que se distanciam da Meta Última, que pode ser vista e compreendida somente pela alma que se libertou porque, através do Conhecimento, da materialidade da vida se desconectou.

Shri Krishna Madhurya: Encontrando-se em liberdade e emancipada, a alma não limita sua relação com o Supremo Senhor, aceitando plenamente seu regozijo e satisfação, independente do que as pessoas ao seu redor estão pensando. A Eternidade preenche a alma, e quem a realizou em sua vida não quererá mais voltar à vida como ela foi, antes de ter adquirido tal estado de perfeição. Tendo reavido o acesso à companhia do Absoluto Controlador em Pessoa, ela saberá tudo o que deve lhe acontecer e poderá travar conversação com Ele a respeito dos pormenores, manipulando-se e aos detalhes dos seus dias com clareza de compreensão.

Então, não há mais interesses alheios a este modo de viver, e o Amor profundo por Deus lhe incentiva a fazer o que tiver de realizar, independente do que lhe custar, afinal, sua vida não está mais alheia à Motivação Original que a fez haver. O Serviço em devoção Aquele que é a Meta Última da existência é seu único fim, pois, conhece o Senhor e, portanto, sabe muito bem que nada mais lhe interessará além de servi-Lo. O Serviço Devocional se acrescenta em sua vida, a qual se volta a somente atividades espirituais, já que as demais opções, disponíveis no mundo material, não podem mais agradar às percepções deste que se emancipou, iluminando o meio que está ao seu redor e atraindo para si somente experiências que lhes são afins.

Sat-cit-ananda só pode ser compreendida com perfeição por quem, mesmo que em lapsos de consciência, venha a travar contato direto com Bhagavan e/ou sua refulgência (Brahman). A plenitude de tal estado existe associada a prema (Amor Puro por Deus), e sua intensidade e o prazer transcendental que ela causa resgata a alma eternamente da vida externa ao coração do Senhor. Nada mais havendo a experimentar no mundo material, em meio às teias de relações que se distanciam mentalmente do Pensar Divino, tal alma nunca mais volta a nascer nos mundos inferiores, exceto em alguns adventos missionários. Sua vida é completamente dedicada à pureza da intenção que existe em seu coração e que o(a) impulsiona a estar sempre ao lado do Supremo Criador.

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