O Dharma da Compaixão ou a Virtude de Amar os Animais

 

O que é virtude?

Às vezes, as pessoas falam assim: “esta pessoa tem virtude” ou “fulano é muito virtuoso”. Mas, o que é virtude? Está certo falar isto: “esta pessoa tem virtude” ou “ele é muito virtuoso”?

Na verdade, quando se está falando no singular, virtude, está falando-se de uma qualidade, que pode ser tanto moral – que se refere à maneira de agir da pessoa -, quanto intelectual.

Por este motivo, por uma qualidade em particular, não é coerente falar-se, “fulano tem virtude”. “Fulano tem virtudes”, ou seja, ele tem várias qualidades. Todas as pessoas têm qualidades, tem virtudes. Então, no singular não é certo falar-se assim de uma pessoa.

Pode-se falar, no entanto, “fulano é virtuoso”. O que significa dizer que a pessoa tem várias virtudes ou ela é uma pessoa virtuosa. Mas, nunca no singular, a menos que se defina a qual virtude que se está referindo. Por exemplo, “fulano tem a virtude da concentração”, “ciclano tem a virtude da bondade”. Pode-se pontuar, focalizando em alguma virtude.

Quem está presente neste mundo pode manifestar qualquer virtude. É só uma questão de as desenvolver. Se já se tem algumas delas, pode-se aprimorar suas expressões, tornando-as ainda mais evidentes na interação da pessoa com o mundo.


A virtude da compaixão

A questão de ter-se uma qualidade moral e/ou intelectual significa que quem a tem sabe agir para o bem. Significa que esta pessoa tem uma determinada moral, a qual ela expressa de alguma maneira, seja através da bondade ou da inteligência ou da concentração, etc.

Ela (a moral) está expressando-se na pessoa através de virtudes, o que mostra que a mesma pessoa tem vontade de fazer algo seguindo os princípios do que é moral.

A pessoa quer fazer ou faz desta forma, mas, para o fazer está agindo de acordo com um jeito de ser que está dentro de si ou que, talvez, ainda não tenha desenvolvido. Afinal, no mundo das jivas (as almas condicionadas ao mundo material) não existe perfeição. Então, ninguém tem todas as virtudes. Neste mundo material não existe perfeição.

E desta maneira você está demonstrando que quer fazer ou faz a sua vida de acordo com a sua vontade de seguir princípios de um determinado tipo de moralidade; e/ou você faz de acordo com alguma expressão virtuosa que existe em você – uma ou mais.

Um exemplo seria “uma determinada pessoa gosta muito de animais e ela tem compaixão” – isto é uma virtude, compaixão.

Esta pessoa quer agir para com os animais segundo um princípio de moralidade que existe dentro de todos nós, porque está na nossa alma, querer cuidar dos animais. Sabemos que os animais contêm uma essência, que é a alma, e que se fizermos o bem a eles, receberemos o bem para nós mesmos. Se fizermos o mal, receberemos o mal. Isto é a lei de ação e reação.

Então, é um princípio de moralidade que nos pertence enquanto almas que somos. Além do que, já temos dentro de nós um enraizamento de bondade, que vem de Deus e que nos faz agirmos pelo bem.

 

Princípios de moralidade diferentes

Todos estes são princípios que fazem a pessoa ter vontade de agir com compaixão pelos animais. Um outro exemplo. “Outro alguém gosta de concentrar-se nos estudos, de meditar e de fazer as coisas com concentração”.

Afinal, ele sabe que se fizer bem feito o que escolhe fazer, terá um retorno melhor do que faz do que se fizer mal feito. Ele sabe que se concentrar-se nos estudos que escolheu, em torno de espiritualidade (se for o caso), irá avançar mais rapidamente.

Existem princípios de moralidade nesta pessoa, que se expressam nela através da virtude da concentração. E assim por diante.

Cada um tem suas virtudes, suas qualidades, porém, o que varia muito são os princípios de moralidade. O que é um princípio de moralidade para um, o que é para outro? O que rege as escolhas para uma pessoa e o que rege para outra pessoa?

Estes princípios do que é moral têm relação com os padrões, as leis, as tradições. Enfim, com valores e convenções que estão em um determinado meio em que você vive. Aqui pergunta-se, como são os padrões deste mundo?

A maioria das pessoas não é compassiva o suficiente, pois, ainda consome carne. Existe nelas um pouco de compaixão, afinal, já se preocupam com a criminalidade e com a diminuição da violência. A maioria das pessoas não se apraz em cometer assassinatos e/ou de, dirigindo um carro, atropelar outra pessoa de propósito (por exemplo).

Muitos já estão preocupados com o bem-estar de animais de estimação, como cães e gatos. São estes novos padrões que estão surgindo.

 

Tradições de respeito e amor pelos animais

Ainda existe um padrão na sociedade ocidental que não leva a uma distinção do bem dentro do coração das pessoas para com todos os seres. Há um padrão que faz com que muitas pessoas acreditem que alguns animais são criados pela indústria (do abate) para serem comidos. Desta forma, as pessoas não têm, em geral, compaixão por eles.

Além disso, como ainda não há predomínio de escolhas por voltar a vida aos assuntos de Deus, tem que haver leis humanas para reger os comportamentos. Se não for imposto por lei, as pessoas não seguem. Para a pessoa respeitar algo tem que ter alguma lei, aprovada por instâncias governamentais.

Tem que ter alguma lei que institua uma multa para que não joguem lixo nas ruas, apenas para citar mais um exemplo. Não basta o efeito da moralidade maior que contém um arquétipo da limpeza do ambiente onde se vive.

Além do que, é preciso considerar a influência que existe das diferentes tradições presentes em cada país e/ou localidade. Dependendo de onde se está, existem valores e algumas convenções que são transferidas de uns para os outros. Segundo elas, geralmente, distingue-se o que é bem para uns e para outros.

Fazer o bem para a maioria de uma região do planeta, de acordo com a religião que se professa, pode ser diferente do que significa fazer o bem para moradores de outra região, os quais professam religiões diferentes. Então, tem-se que fazer o bem, para alguns religiosos do Oriente-Médio é fazer guerra, pois, faz-se guerra acreditando-se que se está fazendo o bem em prol de determinada causa.

Acredita-se estar cumprindo com o dever em casos como estes. Mas, o cumprimento do dever, a partir de um ato da vontade que vem da pessoa em si, quando você começa a desenvolver uma moralidade, independente das convenções de onde você está, é o mais importante de tudo no caminho espiritual.

 

O significado da palavra dharma

Este dito ato da vontade, a pessoa tem dentro dela e, a partir disto, começam a aflorar algumas necessidades morais que outras pessoas podem nem estar vendo ainda. Por que? Porque este ato vem de dentro para fora e quem os permite expressarem-se deixa que outros valores se façam evidenciar.

Ao observar-se o mundo a partir de tais atos da vontade, outros valores vão formando-se e a pessoa vai transformando-se. Isto porque, além das convenções e valores que fazem parte da sociedade, o ser humano contém em si o que se expressa a partir da sua própria vontade.

Em ambos os casos, insere-se aqui um breve raciocínio sobre o significado da palavra dharma.

Quem vive de acordo com seu dharma tenta sempre cumprir com seus deveres para com a sociedade, o mundo e Deus. Porém, que deveres são estes? Depende de onde se está.

Por exemplo, o Cristão, dentro da religião dele, tem uma visão de mundo e respeita determinados padrões e tradições que geram valores e que estão nas Escrituras, na Bíblia; ou nem estão. Muita coisa nem está, mas, transfere-se através da própria religião ou de uns para os outros.

Logo, eles têm uma maneira de agir, perante a sociedade, o mundo e Deus. E o dharma deles é diferente do dharma de um Hinduísta, pois, este último está submetendo-se a outras tradições e valores. Ele conhece outras Escrituras, que trazem outros conteúdos.

Portanto, obviamente que para um Hinduísta que está estudando as Escrituras Védicas, pecar contra as Leis Divinas, seja por meio da execução de pequenos ou grandes erros, pode ser diferente do que se entende por pecar para os olhos de um Cristão.

Porém, devido ao conhecimento que ele tem das Escrituras que segue, alguns erros que cometa podem ser muito mais graves do que os cometidos por Cristãos. Por exemplo, o Cristão Católico não tem em suas Escrituras nada acerca de ahimsa (não-violência) contra animais. Já o Hinduísta, nasce ouvindo falar sobre tal tema.

Desta forma, se um Hinduísta mata uma vaca, o crime dele é muito maior do que o de um Cristão Católico que mate uma vaca. Afinal, este último, em geral, vive em meio a uma sociedade na qual é normal fazer isto.

Sendo assim, o Hinduísta, na relação com seu dharma, precisa ter a consciência de ahimsa para com os animais muito mais do que o Cristão que não tenha tido a oportunidade de aprender o mesmo conceito.

 

Dharma individual e de grupos

Muitas vezes um determinado valor aflora no coração junto de algo novo que se encontra e fortalece-se, como uma fé que se faz haver. Mas, em geral, o dharma depende da sociedade em que se está e/ou da visão de Deus de cada um.

De qualquer maneira, princípios de moralidade envolvem valores e alguns valores são universais. Valores universais servem para todos. Por exemplo, o princípio de não matar seres humanos serve para todas as pessoas, sem exceção.

Mas, o valor específico é o que está relacionado a determinada crença. Como exemplo, cita-se a adoração às vacas do Hinduísmo.

Além do que, dentro da vida pessoal, de acordo com o que se está fazendo e os deveres a serem cumpridos em uma existência em particular, se estabelecem valores que precisam ser desenvolvidos para que se possa cumprir com o dharma específico.

Em todas as fatias da sociedade, vai se encontrar com a variação dos dharmas individuais e/ou grupais. Os valores que os compõem regem a conduta humana e as relações das pessoas umas com as outras, influenciando quais virtudes geralmente aparecem mais na maioria dos membros de uma sociedade.

Da mesma forma, as virtudes que ficam mais escondidas também são influenciadas pelos princípios de moralidade e/ou valores da sociedade e das pessoas em particular. No entanto, muitas virtudes surgem naturalmente, aflorando espontaneamente a partir da vida interior de cada um, independente do meio onde se está.

Tais virtudes que despontam espontaneamente podem conduzir quem as desenvolve para outros meios inclusive.

 

Conclusões

Sendo assim, deve-se ter a compreensão de que certas condutas que nos parecem inaceitáveis às vezes ainda existem por causa da cultura e/ou da religiosidade de quem as pratica. Um mundo muito mais pacífico pode ser cultivado se estivermos sempre conscientes da importância das nossas escolhas individuais e de grupo.

Nossas escolhas podem nos levar a buscar ir além de onde já conseguimos chegar através do que vimos praticando há muito tempo.

A situação do planeta deixa evidente haver a necessidade de uma mudança global das atitudes da pessoa humana. Dentro disso, quis aqui chamar atenção mais especificamente para a vontade que eu tenho e muitos outros também têm de viver em um planeta onde todos os seres vivos sejam respeitados.

É preciso mais do que nunca que indivíduos e grupos procurem cultivar a virtude da compaixão. Para tanto, talvez seja preciso maior conscientização sobre o significado coletivo da palavra dharma.

Necessitamos de um dharma coletivo que nos faça mais compassivos para com a vida na Terra, seja ela humana ou não-humana. Tal necessidade exige de cada um de nós uma nova mentalidade, a qual permita aos animais viverem também em paz e livres da crueldade que vem sendo imposta sobre eles.

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