O que são Chamas Gêmeas?

Introdução

Este texto foi extraído do livro Radha Krishna – O Sol da União entre as Chamas Gêmeas[i]. Dentro dele, o termo Chamas Gêmeas se refere a duas partes de uma unidade espiritual, cujo significado transcende ao das partes isoladas.

Cada uma delas, no entanto, tem uma conformação que acompanha à da outra. Na verdade, a forma e o sentido de uma orienta a forma e o sentido da outra. O sentido é a consciência delas e a forma é a maneira do sentido se expressar, mostrando-se como algo que tem uma identidade.

Alguns tentam explicar a origem disto, às vezes de maneira ilustrativa e didática. Como é o caso da explicação apresentada por Elizabeth Claire Prophet (1999)[ii].

A autora menciona um corpo ovóide de cor branca e, usando do tempo passado em sua narrativa, explica que Deus a separou em duas esferas. Uma delas com a polaridade masculina e a outra com a feminina, porém, ambas com os mesmos padrões de identidade e origem.

Estas duas contrapartes teriam, então, postado-se perante Deus Pai-Mãe, a fim de voluntariarem-se para descer à Terra. A função da descida seria espalhar amor no planeta, através de uma série de encarnações, em corpos masculinos e femininos.

Desta forma, ao longo de muitas vidas sucessivas, ambas as polaridades de uma mesma alma aprenderiam a servir a Deus. No entanto, Elizabeth Claire Prophet evoca a história do Jardim do Éden, para ilustrar à queda de ambas em pecado por mal uso da Luz do Senhor.

O advento da queda representaria a teia cármica que resulta das muitas relações que as chamas gêmeas assumem nas suas vidas sucessivas. Tal teia as afastaria de Sua Fonte e somente o retorno à mesma reuniria novamente às duas polaridades.

Esta é uma maneira de explicar o fenômeno, porém, tenho diferentes compreensões e/ou interpretações a tecer.

 

Minha Compreensão Filosófica e Espiritual do Termo

Ao invés da esfera ovóide, percebo a origem e o destino de tais duas polaridades na própria unidade que existe entre as duas polaridades de Deus Pai-Mãe. Porque o Senhor contém tais dois padrões dentro de Si, a alma ao se autorrealizar busca por sua integridade masculino-feminina.

Esta integridade é a mesma que está no Arquétipo Original das chamas gêmeas, o qual significa unidade na dualidade masculino-feminina da Consciência Absoluta.

Então, ao invés de dois seres postados perante o altar de Deus, percebo duas polaridades de um único ser que, ao mesmo tempo que se perdem, também se reencontram na eternidade dos seus padrões.

Apenas a vivência da eternidade permite entender como é experimentar do início que é também o fim da alma, quando a mesma se reconhece ao ver-se refletida no processo que a faz autorrealizar-se.

Ao ver-se refletida enquanto dualidade na Totalidade do Senhor, ela entende como veio a existir, de modo a refazer seu elo com a Fonte que lhe originou.

Este elo só se refaz com perfeição quando as duas polaridades se reencontram, sendo esta outra compreensão, diferente da acima mencionada[iii]. Tal lógica se aplicaria a todas as almas sem excessão, porém, determinados ângulos de visão não permitem às pessoas perceberem-se como parte de algo assim.

Embora elas desejem sentirem-se mais plenas através de relações profundamente complementares, elas não se abrem ao Conhecimento Transcendental. Desta forma, acabam não cedendo espaço em suas consciências para se associarem, a partir da Terra, ao universo onde a Chama Gêmea arquetípica original está.

 

O Contato Interdimensional entre as Polaridades

Sendo assim, alguns concluem que “nem todas as energias, entidades ou seres escolhem ter uma conexão de chama gêmea”. Então, eles acabam vivendo jornadas diferentes das que envolvem uniões deste tipo.

As energias que escolhem, “selecionam-se umas às outras a partir dos níveis mais elevados de suas consciências”, a fim de experimentarem do amor puro e/ou compreenderem as leis universais que regem tal tipo de união.

Segundo a mesma concepção, algumas almas até mesmo travam contato com este tipo de amor, mas, “nem todas estão preparadas para tornar-se parte de uma união gêmea”. Estas às vezes preferem completar suas jornadas particulares, com a finalidade de “ajustar energias necessárias antes daquele intercâmbio poder aprofundar-se”[iv].

Desde o ângulo de visão de onde estou vendo às chamas gêmeas, não vejo propriamente a possibilidade de alguém escolher se quer ou não participar de uma chama gêmea e/ou de selecionar alguém para se conectar em uma experiência assim.

O que percebo é que toda alma contém-se no conjunto das duas polaridades – a masculina e a feminina -, no entanto, algumas almas, em determinado momento de sua jornada, não travarão contato com este aspecto de si mesmas.

Tal contato só é travado quando a consciência se encontra em uma fase na qual ajuda a compor o estado da humanidade que denominamos de Nova Era.

Este estado está na transição entre dimensões do ser humano, do mundo linear da Kali Yuga terrena (e de outros planetas em condições afins) para as esferas mais sutis não lineares (deste e de outros planos da existência).

Ele pode ser acessado da Terra, mesmo que haja um corpo físico ainda em uso. O acesso se dá através da consciência, desde que a mesma consiga transitar entre dimensões diferentes do que a maioria está acostumada a acessar.

O contato entre as polaridades de uma mesma chama gêmea pode se tornar evidente a partir do momento em que o espírito consegue estar consciente de suas dimensões mais superiores do que a física, a astral e a mental[v].

A Experiência Transcendental das Chamas Gêmeas

Estando consciente, o espírito recebará as experiências que precisa, as quais são desenhadas também por sua consciência, pois, esta se torna cocriativa.

Ao contrário do estado do ser condicionado, que se deixa envolver por entrelaçamentos cármicos, sem aparente poder de transmutar-se e às suas circunstâncias, quem está desperto para o mundo da alma, revela-se ao mundo, mostrando-se em experiência transcendental.

Em tais casos, as duas polaridades já se acessam, podendo, se desejarem, dar expressão a um romance eterno como parte do que fazem. Este romance pode expressar-se mesmo que não estejam ambas fisicamente presentes no plano material.

Quando se mostram para o mundo linear, ambas as polaridades podem ensinar alguém que as observa a transcender à dualidade de si mesmo a partir do que elas constróem juntas.

Tudo o que resulta das interações recíprocas das duas polaridades que estejam em um uníssono cocriativo expressa o que a consciência deseja que a forma revele e a forma se reflete na consciência, traduzindo-se através da mesma.

Forma-se um espelho entre ambas as contrapartes, de modo que alguém que as observe cocriando poderá compreender os mecanismos das chamas gêmeas.

 

Diferença entre Chamas Gêmeas e Pares Cocriativos

Tais mecanismos podem envolver outras pessoas. Algumas delas, ao longo das sequências de eventos que se formam, podem tornar-se pares cocriativos e/ou complementos divinos de uma das duas polaridades da chama gêmea.

Não se deve, no entanto, confundir estes parceiros, junto dos quais se pode desenvolver laços profundos de amor e ação, com aquelas eternas polaridades.

No livro canalizado por Amber Mikesell[vi], há uma referência a tais parcerias, as quais são assumidas com determinados propósitos, antes mesmo do aparecimento das contrapartes no plano material.

Pares cocriativos podem viver diferentes tipos de experiência juntos, em mais do que um nascimento corporificado, bem como em dimensões não físicas.

Porém, o significado da unidade deste conjunto de aparecimentos na totalidade das experiências de uma alma só se expressa para ela dentro da sua chama gêmea original[vii].

É a chama gêmea que contém em si o propósito que a faz bipolarizar-se. Este propósito é a força que movimenta as bipolaridades, de modo que suas experiências são sempre complementares e integradoras umas das outras.

 

O Retorno à Unidade das Duas Polaridades

Para que haja experiências que se complementam é usual que as duas contrapartes bipolares, no início de seu processo de autoconhecimento, se separem, distanciando-se até o ponto máximo que seja possível se distanciarem. Atingido tal ponto, elas movimentam-se de volta em direção à união original.

Tanto no processo de distanciamento quanto no de reaproximação, as contrapartes tecem interações com contrapartes de outras chamas gêmeas.

Na ausência direta uma da outra, suas tessituras são sempre complementares, pois, fazem parte de um campo unificado, o qual se subdivide em duas partes com polaridades opostas.

Este movimento de distanciar-se e voltar a  aproximar-se pode ser entendido por analogia ao que acontece quando se estica um elástico por tensão de suas duas pontas para, em seguida, o soltar. A tensão aplicada entre elas é o amor, o qual, para se dar expressão máxima, as separa.

No movimento de separação e de retorno, acontecem as experiências paralelas, que envolvem polaridades de outras chamas gêmeas.  O distanciamento as torna diferentes uma da outra e a reaproximação as faz semelhantes[viii].

No conjunto todo, há a unidade das experiências.

A unidade dá significado para a chama gêmea, para o traçado ou desenho resultante da movimentação complementar das contrapartes bipolares e para o porquê delas, por força do seu amor recíproco,  separarem-se.

Conclusão

Não se deve confundir a atração que se tenha enquanto se está no corpo material por alguém em particular com o amor profundo que une as Chamas Gêmeas.

Até porque este amor só se expressa na vida quando a transcendência das dualidades dissipou a ilusão do ego externo. Em tal condição, a alma já se encontra livre das teias cármicas e consciente de sua origem, meio e fim.

Para evidenciar o que aqui se coloca, descrevo no livro Radha Krishna – o Sol da União entre Chamas Gêmeas a parte do romance transcendental de Radha Krishna que contém o que Eu Sou nesta vida.

Tal relação eterna manifesta uma história complexa e cheia de significados arquetípicos. É arquetípica inclusive a relação como um Todo, pois, consiste ela do personificado amor que une ”a alma ao seu Deus e a Deus para com tudo o que Lhe pertence”.

 

Referências

[i] Shri Krishna Madhurya. Radha Krishna – o Sol da União entre as Chamas Gêmeas. Rio de Janeiro: Sétimo Raio, 2018.

[ii] Elizabeth Claire Prophet. Soul Mates and Twin Flames: The Spiritual Dimensions of Love and Relationships. Gardner, Summit University, 1999.

[iii] Para Elizabeth Claire Prophet (1999), a união das chamas gêmeas só acontece quando há realização de Deus. De maneira complementar, percebo que só se pode realizar a Deus Pai-Mãe quando já se realizou às duas polaridades dentro de si mesmo. Então, o masculino e o feminino de Deus são conhecidos na dualidade da alma e, ao mesmo tempo, no seu significado com relação à unidade para com Ele. A um processo assim se denomina autorrealização.

[iv] Estas explicações são apresentadas no livro The Ultimate Union: Twin Flame Pairs, canalizado por Amber Mikesell, Mikesell Productions (2013).

[v] Na lógica dos sete corpos e/ou dimensões do ser, são superiores: etérico, causal, crístico e divino. A dimensão etérica permite que pensamentos, emoções e sensações corporais ultrapassem os limites que o mundo material impõe ao ser humano. Trata-se de uma ponte para a Luz das outras duas dimensões, as quais trazem para o mundo da forma a alma em sua pureza maior. O Ser Crístico já tem sido bastante mencionado na Nova Era, sendo um estado de consciência que vem para libertar a consciência da coletividade a partir dos focos onde se expressa. Tais focos, quando se abrem a fim de amplificar sua relação com a Pessoa de Deus e Seu Supremo Pensamento, vivem a liberdade da bem-aventurança que há em sat-cit-ananda. Sat-cit-ananda é o estado do ser em sua essência e, portanto, conhecedor de suas polaridades masculina e feminina.

[vi] Ver nota iv acima.

[vii] Há importantes diferenças nas relações entre pares cocriativos e as que acontecem entre chamas gêmeas. Rosebud Baker apresenta um quadro bem elucidativo, disponível em https://www.elitedaily.com/life/twin-flame-energetic-equal-heres-tell-youve-found/1899291, acessado a 27/01/2018. Podemos encontrar mais do que um par cocriativo em uma única vida, os quais têm frequências energéticas muito semelhantes às nossas, há sempre algo a aprender com tais relações e elas acontecem em geral previamente ao encontro com a chama gêmea. A chama gêmea, por sua vez, é nossa contraparte energética, tendo a frequência vibratória que se completa em definitivo com a nossa, pois, trata-se da polaridade complementar à metade que somos de uma unidade, a qual se divide na eternidade de sua existência com uma finalidade em particular.

[viii] Por este motivo, as pessoas geralmente comentam que, para as chamas gêmeas se reaproximarem é preciso que ambas as contrapartes estejam prontas em quatro dimensões: física, emocional, mental e espiritual. O texto sobre os quatro requisitos para uma relação de chamas gêmeas funcionar, disponível em https://www.elephantjournal.com/2017/02/the-4-requirements-for-a-twin-flame-relationship-to-work/, trata deste assunto. O mesmo foi por mim acessado a 27/01/2018. Estar preparado em tais diferentes dimensões significa estar voltando ou já ter voltado do movimento de separação das contrapartes que acaba de ser explicado no presente livro.

 

 

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