Glossário de Termos para Descrever uma Relação Pessoal com Deus

Introdução

O Hinduísmo é muito diversificado em suas expressões de devoção, mas no Hinduísmo Integral Neo Bhagavata, quando falamos em uma relação com Deus, ela é uma relação de verdade. O que isso significa? Significa que existe uma relação eterna com uma Pessoa Suprema (Bhagavan), que é o objeto do nosso apego (vishaya) – Krishna (Shiva). O outro lado da relação é o adorador do objeto do apego (ashraya), que é o devoto. Nós o vemos em tudo que existe, nos mecanismos da existência, no controle da Natureza, na inteligência intrínseca dos universos (Brahman).

Enfim, Deus é também o Brahman impessoal, além de ser uma Pessoa. Mas, os devotos que têm apenas a visão impersonalista dEle, que só buscam se fundir com a refulgência de Bhagavan, não podem experimentar de rati ou sthayibhava, como quem se relaciona com a Pessoa que Ele é. Nesse breve, porém profundo glossário, será explicado o que essas e outras palavras significam. É importante compreendê-las, pois são parte de uma relação intensa e eterna, a qual só pode ser vivenciada por almas livres de qualquer tipo de aprisionamento no mundo condicionado material.

Darshana, Parikrama e Prasada

Darshana significa uma aparição ou um momento em que você vê, sente e pensa uma Divindade. Isso é um darshana; e as pessoas vão para um templo para tomar o darshana da Deidade que está instalada ali. Então, elas fazem o parikrama (que é circundar o Templo ou algum elemento sagrado da paisagem) e tomam prasada (alimento oferecido a Krishna ou Shiva no altar) em locais que são sagrados e fazem contato com certos lugares que vão qualificar o devoto para o êxtase, se o devoto perceber Shri Krishna (Shiva) nestes lugares, se o devoto o perceber no parikrama ou na prasada.

Então, se o devoto está qualificado para receber este êxtase do contato com Deus, do contato transcendental, viverá tal intenso contato. Mas, muitas vezes as pessoas vão fazer as peregrinações, vão participar destes festivais e permitem que suas mentes se afastem do objetivo que as fez estar ali. Daí ficam na mente inferior (linear) só e não veem Deus no evento. Em geral, para estas pessoas distribui-se muita prasada, que é o alimento que causou prazer para Ele e que vai, por misericórdia, também causar prazer para quem se alimentar deste alimento que foi oferecido para o Senhor. Então, Krishna fala que: “quem deste alimento tomar se depurará de muitos de seus condicionamentos, doando a si mesmo a chance de se renovar, enquanto se alimenta daquilo que de fato o satisfará” – do alimento que foi oferecido para Ele, portanto.

Lila, Rasa Tattva e Bhakti Rasa

Quando se fala em lila refere-se a todas aquelas histórias de Krishna com as Gopis, o que Krishna faz nos palácios e o que Krishna faz com Arjuna. Como Ele se relaciona com Arjuna e com todos aqueles Seus associados. Na lila, tudo o que está acontecendo eternamente é o que irradia de rasa tattva.

Tattva é uma palavra que significa princípio e existem muitos tattvas na Ciência de Deus. Está-se estudando aqui um deles, que é rasa-tattva, o qual, na verdade, é um princípio que contém muitos outros. Pode-se, portanto, usar o termo no singular, se referindo ao princípio do Amor Divino, ou no plural, porque tem muitos princípios dentro de rasa-tattva. Então, é um princípio que não é meramente racional e que a mente racional não consegue entender, ele é transcendental.

A palavra rasa se refere ao conjunto de sensações dentro de uma relação transcendental com a Pessoa de Deus, sendo rasa-tattva o princípio que rege essa relação transcendental com o Senhor. Dentre todos os princípios, Krishna coloca rasa como o mais fundamental, porque trata da nossa relação com Ele. É citado também o termo bhakti-rasa, o que é Serviço Devocional, sendo que rasa existe na relação com Deus.

Bhakti-Rasa é a relação que se desenvolve no seu Serviço Devocional, ou vice-versa, o Serviço Devocional você desenvolve de acordo com a rasa que você tem com Ele. Bhakti-rasa ocorre em consciência pura, quando você está na sua consciência mais pura, e você se devota plenamente a Ele. Quando você o Ama conscientemente e com Ele reciproca desse Amor, realmente consegue experimentar bhakti-rasa, que é o Serviço Devocional puro, sem máculas de nenhum tipo.

Se você está reciprocando com Ele uma relação, e você está compreendendo esse princípio, é porque ele vem sendo irradiado da própria Fonte, que é Deus. Porque o Senhor realiza isso, por meio do Seu eterno pensar/existir Absoluto, Ele irradia tal Luz, que é percebida pelo devoto – a Luz de rasa tattva. E rasa é um princípio pré-determinado, o qual é conhecido em detalhes pela alma que realiza sua condição existencial junto de Keshava, enquanto Sua associada transcendental.

Isso o Senhor complementa, dizendo que “bhakti-rasa é obtida quando a consciência se purifica de outras tendências que não sejam apenas Me amar e Comigo reciprocar de mútuas considerações; e ela está no Serviço que o devoto realiza enquanto pretende se purificar de tudo o mais que não seja apenas a tal relação se entregar”. A auto-entrega a uma relação, a qual se caracteriza por determinada rasa, se expressa de acordo com determinado sthayibhava.

Sthayibhava, Madhurya-Rasa e Rati

Cada pessoa tem um sthayibhava, o qual na verdade só aparece quando você começa a se interessar por Deus. Se você não tem interesse nenhum por Deus, o seu sthayibhava é nulo.  O sthayibhava reflete seu apego por Deus. Aqui mais especificamente está se abordando o apego por Krishna (Shiva), pois, neste texto, Deus se mostra para nós através destes nomes e destas formas (ou de outro nome ou outra forma, como Vishnu e Rama). E o sthayibhava é também o primeiro sintoma que desperta quando você começa a se voltar para essa relação, que é uma relação eterna que você tem com Ele.

Tal sintoma qualifica a sua relação com a Fonte da sua alma. Isso significa que um apego é diferente do outro. A relação da autora deste texto é em madhurya-rasa, e o seu apego por Krishna é conjugal. Assim o sthayibhava da autora reflete à madhurya (atração conjugal) para com Krishna (Shiva). Acontece o mesmo na vida individual das pessoas do mundo material. Por exemplo, quando alguém tem um marido e uma filha, o apego de tal pessoa pelo marido é diferente do apego da mesma pela filha. De tal mecanismo resulta o sthayibhava.

O sthayibhava é a primeira coisa que começa a surgir, às vezes muito leve e sutil, quando, iluminado por rasa-tattva, você volta a interagir com a Pessoa de Deus na eterna morada. Ele surge como um sentimento e um humor de apego recíprocos, que é bem específico à sua relação eterna com Bhagavan. Quando alguém volta a ter acesso a Ele, através da Presença Eu Sou ou por ascensão espiritual, significa que esta pessoa retomou o sthayibhava característico à sua relação. Voltar a se relacionar com o Senhor e a ter ao menos lapsos da consciência da alma original, fazendo uso de uma terminologia Neo Bhagavata, depende do processo de ascensão espiritual. Tal ascensionamento da consciência permite que o apego a Deus se revele, o qual é chamado rati.

Rati é o apego em si, de modo que qualquer apego pode ser assim denominado. Mas, se o apego é por Krishna (ou pela Pessoa de Deus, em alguma de Suas formas), dentro de uma relação transcendental com Ele, este apego expressa-se em sthayibhava. Rati aparece, esse apego se revela e vem demonstrando sentimentos que realmente você tem. Tais sentimentos são expressão de uma reciprocidade com Krishna (Shiva), exatamente porque é Ele que lhe faz relembrar dessa relação. É Ele que faz você relembrar, que toma você de volta. Mas, trata-se de um processo recíproco, pois, devido ao seu esforço em buscar pelo Senhor, quando começa a ascencionar, você retoma o acesso a Ele.

Entenda-se, portanto, que é Ele que lhe dá o acesso. Na verdade, este acesso é uma expressão da reciprocidade da alma com Deus, que é eterna, e que está se manifestando através de um novo contato que a pessoa está fazendo com Ele. O novo contato revela rati, apego pelo Senhor. Mas, o apego que você já tem, quando você já sabe quem você é ao lado de Krishna, deve ser chamado sthayibhava, que é específico a cada relação com Ele.

Palavras Conclusivas

Algumas pessoas, de certas linhas de fé, acham que você desenvolve uma relação com a Pessoa de Deus enquanto está em corpo físico. Sendo assim, ao longo desta e de outras vidas, tudo o que você faz lhe conduz ao estabelecimento de tal relação. Pensando desta maneira, há devotos que até escolhem o tipo de relação que lhes agrada mais, dentre as opções que existem. Mas, não é assim que percebemos o advento na vida de uma relação eterna, a qual se revela ao campo da experiência externa, a partir da eternidade da alma.

A alma existe para sempre junto de Deus e a desconexão do ser humano, devida às impurezas da vida ordinária, que porventura tenha assumido ao longo de sucessivas vidas, precisam ser eliminadas, abrindo espaço para que rati se expresse. Entenda-se, portanto, que a relação em si existe eternamente, e os samskaras ou ritos purificatórios (no Hinduísmo Integral), ajudam para que a mesma eterna relação volte a se revelar para a alma em purificação.

O sthayibhava não pode ser atribuído ao meio que a faz despertar; e os samskaras ou atos purificatórios são instrumentos de rasa, que é ao mesmo tempo o fim e o início de tudo que alma fez-se constituir. Ou seja, o sthaibhava já pertence a você, ele é o seu fim e o seu início. Aquilo que você é para Krishna (Shiva) é também o seu início e o seu fim, o seu destino. O sthaibhava só vai fazer isto despertar em você, e os sanskaras, da mesma forma, só vão fazer isto despertar em você. Não é que você vai criar uma relação com Deus a partir disso. Rati é o apego que você tem por Ele dentro do seu próprio sthaibhava; e isso misturado com outros ingredientes é o que produz Krishna (Shiva) bhakti-rasa, que é a relação que você tem com a Pessoa de Deus  dentro do Serviço Devocional.

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