{"id":461,"date":"2023-11-14T04:20:18","date_gmt":"2023-11-14T06:20:18","guid":{"rendered":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/?p=461"},"modified":"2023-11-14T05:23:04","modified_gmt":"2023-11-14T07:23:04","slug":"india-terra-sagrada-das-divindades","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/2023\/11\/14\/india-terra-sagrada-das-divindades\/","title":{"rendered":"\u00cdndia, Terra Sagrada das Divindades"},"content":{"rendered":"\n\n\n

\"\"<\/p>\n

Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n

Para quem segue o Hindu\u00edsmo Integral<\/a>, n\u00e3o h\u00e1 terra mais sagrada que a \u00cdndia, embora a Terra em si, seja Ela mesma uma divindade. Digo isso porque, depois de oito visitas ao pa\u00eds indiano, ao longo de dez anos (2013-2023), me sinto \u00e0 vontade para expressar-me de tal maneira. Aqui posso, enfim, celebrar, no coletivo de uma sociedade, o calend\u00e1rio devocional constru\u00eddo sob influ\u00eancia do panchang<\/em> que, elaborado por astr\u00f3logos e religiosos Hind\u00fas, define datas e fases importantes do ciclo anual[i]<\/a>.<\/p>\n

O mesmo calend\u00e1rio, enquanto permane\u00e7o no Brasil, \u00e9 celebrado de maneira mais interna ao Templo, no qual nos situamos. Somos poucos na nossa pequena congrega\u00e7\u00e3o[ii]<\/a>, mas, nas ruas de algumas cidades indianas, compartilhamos nossa f\u00e9 com uma multid\u00e3o. Dispomos tamb\u00e9m de muitos outros templos e de recantos, onde ir meditar e\/ou congregar em determinados momentos.<\/p>\n

Embora, haja uma infinidade de vertentes no Hindu\u00edsmo, tal religi\u00e3o, em sua forma integral, nos d\u00e1 abertura para nos unirmos em muitas medita\u00e7\u00f5es. Pessoas que seguem diferentes linhas devocionais se juntam em torno de festivais, pujas (adora\u00e7\u00f5es rituais), peregrina\u00e7\u00f5es, parikramas (circum-ambula\u00e7\u00f5es) e outros eventos de f\u00e9. Sendo assim, a religiosidade ainda maior se transforma, quando, em uma s\u00f3 voz, cantamos para uma Deidade de algum templo em particular, oferecemos lamparinas e flores para a Divindade de algum rio sagrado; ou simplesmente acreditamos no poder dessa Religi\u00e3o mundial (e\/ou dessa Terra Sagrada que lhe deu origem).<\/p>\n

\u00a0<\/p>\n

Varanasi, cidade de Shiva<\/strong><\/p>\n

Varanasi fica localizada no estado de Uttar Pradesh, norte da \u00cdndia[iii]<\/a>. Ao chegar nela, vivenciamos um tipo de hospitalidade que s\u00f3 se encontra no pa\u00eds indiano. Fomos recebidos calorosamente, com conforto e tudo que pudesse ser do nosso agrado. Vimos uma Varanasi diferente de anos atr\u00e1s e, ao mesmo tempo, sempre a mesma. Diferente no sentido de reformada, para melhor, em muitos aspectos. A mesma, por resguardar sua m\u00edstica espiritual e a afetuosa receptividade de tal esfera devocional.<\/p>\n

A esfera pertence a Shiva<\/a> Shakti, Deus masculino-feminino que, para alguns \u00e9 n\u00e3o-dual, para outros \u00e9 dual; e para outros ainda \u00e9 dual e n\u00e3o-dual ao mesmo tempo. Como o vemos, enfim, dual e n\u00e3o-dual, ou seja, somos diferentes dEle, mas, tamb\u00e9m unos com Ele. Shiva Shakti permeia todas as coisas, as din\u00e2micas da vida e os seres viventes. Tudo est\u00e1 nEle, mas, Ele est\u00e1 al\u00e9m de cada coisa, de cada din\u00e2mica e de cada ser. Ningu\u00e9m existe independentemente dEle, nem faz nada sem Sua concess\u00e3o.<\/p>\n

Em Varanasi, penso nEle a cada instante, compreendendo Suas l\u00f3gicas, e o vejo no pensamento de muitas pessoas. Di\u00e1logos s\u00e3o travados em diferentes momentos e circunst\u00e2ncias sobre Shiva e\/ou Shakti<\/a>. H\u00e1 muito a se ver por todos os lados, que nos fa\u00e7a lembrar dEle\/a, portanto, a cidade nos aproxima demais do Senhor de tudo e de todos\/as. Ela nos faz meditar o tempo todo, se formos capazes disso. Desta forma, minha medita\u00e7\u00e3o expressa aqui algumas linhas, a partir do que Ele me fez pensar e compreender em torno de mim mesma e da experi\u00eancia de estar viva.<\/p>\n

\u00a0<\/p>\n

Harischandra Ghat<\/strong><\/p>\n

Em Varanasi, esse \u00e9 um dos dois cremat\u00f3rios considerados mais sagrados, sendo o outro, o Manikarnika Ghat. Na totalidade de sua \u00e1rea, podem-se ver, ao mesmo tempo, v\u00e1rios corpos sendo cremados. Pudemos compreender v\u00e1rios aspectos do seu funcionamento, al\u00e9m de experimentarmos o sentimento de impot\u00eancia do corpo material, que obrigatoriamente passar\u00e1 por tal situa\u00e7\u00e3o. No entanto, refor\u00e7amos, desde dentro de n\u00f3s, que a vida \u00e9 muito mais do que isso. Tantos corpos sendo cremados, na beira do rio Ganges, enquanto os familiares dos que deixaram a vida material externa nesse dia, executavam o \u00faltimo rito de um Hindu\u00edsta, compondo o cen\u00e1rio de um grande ato meditativo.\"\"<\/p>\n

Esse ato na verdade enaltece o corpo material que, ap\u00f3s conclu\u00edda essa etapa que estamos experimentando no momento, precisa ser abandonado. Mas ele \u00e9 enaltecido por representar importante oportunidade de existir em pleno di\u00e1logo com Shiva (e Shakti). Em nossa frente, perceb\u00edamos com clareza tal realidade. O Ganges faz parte de tal rito de conclus\u00e3o de uma passagem por aqui, pois os familiares de quem nos deixou (temporariamente), conduzem o corpo abandonado at\u00e9 as \u00e1guas da M\u00e3e Ganga. Ap\u00f3s alguns minutos de ben\u00e7\u00e3os, ele \u00e9 levado ao nicho de crema\u00e7\u00e3o, onde ir\u00e1 ser consumido pelo fogo, ao longo de tr\u00eas horas.<\/p>\n

No Hindu\u00edsmo evitam-se as cenas de emocionalidade que marcam os ritos an\u00e1logos a esses que pertencem a outras religi\u00f5es ocidentais. O corpo deve ser levado ao cremat\u00f3rio o mais r\u00e1pido poss\u00edvel, ap\u00f3s ser abandonado por quem o usava, evitando-se assim o sofrimento das pessoas que se separam daquele\/a que acabou de partir para outra parte da exist\u00eancia. Pelo mesmo motivo, o rito final s\u00f3 pode ser executado por homens, j\u00e1 que as mulheres costumam ser mais sentimentais. Quem nos contava tais detalhes era um devoto Hindu\u00edsta, que fica sempre por ali, assessorando os rec\u00e9m-chegados (como n\u00f3s, que ali est\u00e1vamos de passagem), perante os quais costuma explicar cada detalhe de tal sanskara (rito de passagem)[iv]<\/a>. Ele nos mostrou diferentes momentos da crema\u00e7\u00e3o, que aconteciam em concomit\u00e2ncia, j\u00e1 que havia v\u00e1rios corpos sendo cremados ao mesmo tempo.<\/p>\n

Um deles acabara de chegar e inclusive t\u00ednhamos cruzado com a prociss\u00e3o que o transportava, ainda antes das escadarias do ghat. Sua chegada ali foi recebida com m\u00fasica, tocada por instrumentos de percuss\u00e3o e outros, al\u00e9m de p\u00e9talas de flores que eram jogadas sobre o recept\u00e1culo de vida que agora inerte se encontrava.<\/p>\n

Vimos devotos aghoris de Shiva presentes, os quais t\u00eam como objeto de sua religiosidade os cremat\u00f3rios, as cinzas dos corpos cremados, o fogo dos rituais e at\u00e9 mesmo aspectos de um tipo de canibalismo ainda pouco compreendido por muitos de n\u00f3s. Al\u00e9m do que, pudemos acompanhar a finaliza\u00e7\u00e3o de outro rito, quando o fogo que acaba j\u00e1 ter\u00e1 consumido quase todo o corpo, mas, se algo restar, ser\u00e1 jogado no rio.<\/p>\n

H\u00e1 diferentes piras sendo usadas, explicou-nos o devoto que nos falava. As que ficam mais na frente do Ganges, sob plataformas mais altas, s\u00e3o montadas com mais lenha, pertencendo aos que deixaram provisoriamente esse mundo, a partir de fam\u00edlias das classes sociais mais abastadas da sociedade indiana. As piras situadas no meio do ghat t\u00eam menos lenha, sendo usadas por fam\u00edlias de classe m\u00e9dia. As que est\u00e3o mais para o fundo, sendo montadas com menor quantidade de lenha, s\u00e3o usadas para a crema\u00e7\u00e3o de corpos dos membros de fam\u00edlias economicamente mais desfavorecidas.<\/p>\n

Desta forma, a condi\u00e7\u00e3o social da vida ir\u00e1 influenciar at\u00e9 mesmo na constitui\u00e7\u00e3o de tal rito de finaliza\u00e7\u00e3o da experi\u00eancia de passagem por aqui. \u00c9 uma pena que seja assim, pois, independentemente de sua origem social, todos\/as deveriam receber a mesma homenagem final. Por\u00e9m, o tamanho e a localiza\u00e7\u00e3o da pira depende de quanto dinheiro a fam\u00edlia pode dispor quando de sua constitui\u00e7\u00e3o. S\u00e3o coisas da vida material que, no entanto, conforme sabemos, refletem aquilo que est\u00e1 escrito no destino de cada um, a partir do seu desenho c\u00e1rmico. Ou seja, o que fazemos em uma ou mais das nossas vidas passadas ir\u00e1 refletir at\u00e9 mesmo na maneira como nosso corpo, no Hindu\u00edsmo, ser\u00e1 cremado na vida atual, pois, ter mais ou menos dinheiro familiar \u00e9 consequ\u00eancia de feitos passados. Desta forma, o Harishchandra Ghat est\u00e1 cheio de li\u00e7\u00f5es a resguardar, reeducando-nos para a exist\u00eancia, enquanto nos apegamos a Shiva, em busca da verdadeira liberdade de qualquer tipo de conven\u00e7\u00e3o desse mundo externo.<\/p>\n

\u00a0<\/p>\n

Mahanavratri (e Dussehra)<\/strong><\/p>\n

Estive em Varanasi na maior parte do Shardiya Navratri (Mahanavratri)[v]<\/a>, portanto, as reflex\u00f5es que o evento provocaram se deram por meio das intera\u00e7\u00f5es com a cidade sagrada de Shiva. A cidade abriga alguns templos da Shakti, sendo o principal deles o Durga Mandir[vi]<\/a>. Durante o Durga Puja, muitos devotos passam por l\u00e1, quando se sente o poder da f\u00e9 e da devo\u00e7\u00e3o ali presente. Durga tem tantos nomes e apar\u00eancias, podendo ser vista at\u00e9 mesmo em alguma manifesta\u00e7\u00e3o corp\u00f3rea mal compreendida pelas pessoas que com Ela convivem sem saber se tratar dEla.<\/p>\n

Alguns podem n\u00e3o compreender por que afirmo isso, mas, de fato a conhe\u00e7o desde as profundezas do meu ser espiritual. Durga \u00e9 a origem e o fim da consci\u00eancia que a natureza desenha ao desenhar a vida por for\u00e7a e vontade de Deus. Portanto, a vivencio enquanto entendo os mecanismos ecol\u00f3gicos da vida se manifestando ao meu redor, por causa de eu estar pensando como eles funcionam e o que eles promovem por serem o que resulta de uma divindade. No Durga Mandir, durante o Mahanavratri, recebe-se a ben\u00e7\u00e3o da influ\u00eancia de tal Shakti sobre a vida, como ela se manifesta enquanto experi\u00eancia material\/espiritual, em consci\u00eancia dos significados das nove noites e das nove formas que nEla est\u00e3o.<\/p>\n

As nove formas est\u00e3o expostas em quadros na parede localizada \u00e0 direita do altar principal, enquanto Durga, Lakshmi e Sarasvati t\u00eam seus pr\u00f3prios altares. Sendo assim, enquanto existem as nove noites e a medita\u00e7\u00e3o no Mandir, tem-se organizada compreens\u00e3o de si mesmo, funcionando em coer\u00eancia com a l\u00f3gica do festival[vii]<\/a>. No Durga Mandir, ele se esclarece ainda mais.\"\"<\/p>\n

Ent\u00e3o, ap\u00f3s as nove noites, Ramachandra comemora Sua vitoriosa participa\u00e7\u00e3o na batalha contra Ravana em Lanka. Tal dem\u00f4nio, tentando se apoderar da Shakti, rapta Sita, ap\u00f3s acreditar que enganou Rama, atraindo-o para a floresta atr\u00e1s de um veado dourado que, na verdade, \u00e9 outro dem\u00f4nio disfar\u00e7ado. Ravana conduz Sita ao seu reinado, mantendo-a sua prisioneira, sob amea\u00e7a de espos\u00e1-la.<\/p>\n

Shri Ram adora as nove formas da Deusa, sendo o Navratri, a vida que se expressa enquanto tal adora\u00e7\u00e3o acontece. Ap\u00f3s as nove noites, Ele enfim derrota Ravana. O Dussehra \u00e9 a din\u00e2mica de tal vit\u00f3ria (o vijayotsava<\/em> de Ramachandra). Em Varanasi, se festeja, com sentimentos que revivem a experi\u00eancia que Rama oferece a todos os devotos, a vit\u00f3ria do bem sobre o mal. As pessoas saem \u00e0s ruas, que se tornam barulhentas, cheias de sons, fogos de artif\u00edcios, alegria e descontra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Deus sempre vence as batalhas que trava contra dem\u00f4nios, influenciando a alma humana a tamb\u00e9m venc\u00ea-los, a partir do poder da f\u00e9 e da devo\u00e7\u00e3o. Vivencio tudo isso nas ruas de Varanasi, percebendo a influ\u00eancia dos passatempos eternos em tudo que tenho experimentado, sendo eu mesma, um fruto do que eles (os passatempos) expressam para a humanidade.<\/p>\n

\u00a0<\/p>\n

Vrindavana, cidade de Krishna<\/strong><\/p>\n

Quando se chega a essa localidade, o esp\u00edrito se refaz, tomando-se de alegria. \u00c9 uma volta triunfante a um lugar de origem e de finaliza\u00e7\u00e3o conclusiva da vida, dos pensamentos e sentimentos. Vrindavana[viii]<\/a> \u00e9 um jardim sagrado, onde Radha<\/a> se encontra furtivamente com Krishna<\/a> todos os dias, eternamente. Mas, isso s\u00f3 pode ser vivenciado pela alma engajada nos significados transcendentais da cidade. Infelizmente, muitas pessoas permanecem nela sem a devida aten\u00e7\u00e3o ao que ela representa para a humanidade. Comportamentos desviados pelo ego humano s\u00e3o comuns, o que compromete muitas vezes a viv\u00eancia espiritual.<\/p>\n

Mas, no todo, o que vale \u00e9 a principal conforma\u00e7\u00e3o da experi\u00eancia. Ela se d\u00e1 segundo a condi\u00e7\u00e3o da consci\u00eancia que realiza a peregrina\u00e7\u00e3o. Os caminhantes cheios de f\u00e9, os cantos dos mantras, o aroma dos incensos e das goshala<\/em> (locais onde as vacas ficam), o rio Yamuna, os templos e suas deidades, tudo inspira devo\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Logo ao chegar, vamos primeiro ao Templo de Gopeshvara Mahadeva, tomar o darshana[ix]<\/strong><\/a><\/em> de Shiva, em forma de gopi[x]<\/strong><\/a><\/em>. Ele assume tal forma para experimentar da do\u00e7ura da rasa lila[xi]<\/strong><\/a><\/em> com Krishna, por\u00e9m, a partir da autopercep\u00e7\u00e3o que Ele tem em t\u00e3o espec\u00edfico humor da Absoluta Consci\u00eancia masculina. Por ter adentrado na lila <\/em>dessa maneira, sendo quem \u00e9, na esfera das divindades do Hindu\u00edsmo, \u00e9 Ele uma esp\u00e9cie de porteiro, que pode dar acesso ao passatempo de Krishna com as gopis<\/em>. Al\u00e9m do que, adentrando no templo, se percebe nitidamente que esse aspecto da lila<\/em> \u00e9 uma estrat\u00e9gia de Bholenath para ter um templo forte dentro da cidade de Vrindavana.<\/p>\n

Quando me refiro a templo forte, estou sugerindo um local sagrado onde os devotos congregam com fervor devocional, muitos devotos. Sendo essa uma cidade sagrada de Krishna, nela h\u00e1 muitos seguidores das sampradaya<\/em> Vaishnavas (devotos de Vishnu). Dentre eles, muitos n\u00e3o compreendem que Harihara seja um s\u00f3, ou seja, que Krishna e Shiva \u00e9 Um (e o mesmo Deus). Mas, no Templo de Gopeshvara Mahadeva, tem-se a mesma sensa\u00e7\u00e3o que se tem em outros templos onde Shiva \u00e9 adorado como supremo.<\/p>\n

\"\"Apesar disso, a maioria dos templos de Vrindavana s\u00e3o dedicados a Krishna mesmo. O Rangnath Ji Mandir[xii]<\/a> \u00e9 bem cl\u00e1ssico, da Shri Sampradaya, onde se pode ver Ele na forma de Vishnu; e Radha em Shri e Bhu (duas formas em Uma). Outros templos s\u00e3o muito visitados, sendo as principais deidades da cidade: Radha Ramana[xiii]<\/a>, Banke Bihari[xiv]<\/a>, Radha Vallabha[xv]<\/a>, Radha Damodara[xvi]<\/a> e Radha Shyamasundara. Templos de linhas espec\u00edficas s\u00e3o o Krishna Balarama Mandir (da Iskcon)[xvii]<\/a> e o Prem Mandir (de Kripalu Parishat). H\u00e1 tamb\u00e9m os Templos de Katyayani, Bankhandi Mahadev, Hanuman Garhi, dentre outros. Ainda, Keshi Ghat, Vamshi Vata, Seva Kunja s\u00e3o todos nichos sagrados da lila transcendental em Vrindavana.<\/p>\n

Portanto, mesmo as ruas da cidade s\u00e3o impregnadas de Radha Krishna, pois, todos os lugares j\u00e1 mencionados s\u00e3o prop\u00edcios ao estabelecimento de bhava – mistura de sentimentos\/pensamentos que nos tomam. O que nos resta fazer, enquanto devotos, \u00e9 deixar-nos fluir atrav\u00e9s da experi\u00eancia, contribuindo para que a esfera se mantenha como ela originalmente \u00e9. Isso exige um pouco mais do que apenas f\u00e9, pois, \u00e9 preciso haver atitude congregacional e respeitosa para com todas as maneiras de compreender Deus, de compreender Radha Krishna (Shiva Parvati). Aceitar a diversidade na unidade que a \u00cdndia representa para n\u00f3s, que seguimos, de alguma maneira, os ritos e os calend\u00e1rios do Hindu\u00edsmo, em sua \u00edntegra ou em alguma de suas in\u00fameras especificidades, \u00e9 fundamental. Isso apenas fortalece quem n\u00f3s somos e o que desejamos propagar na Terra, independentemente do pa\u00eds no qual tenhamos nascido.<\/p>\n

\u00a0<\/p>\n

Diwali (e Lakshmi Puja)<\/strong><\/p>\n

O Diwali[xviii]<\/a> \u00e9 um momento de transi\u00e7\u00e3o para o novo, quando se espera que aquilo que j\u00e1 n\u00e3o merece mais permanecer na nossa vida seja superado. No lugar do que j\u00e1 passou, que haja uma condi\u00e7\u00e3o renovada. Isso pode ser um jeito diferente de se relacionar com as pessoas com quem usualmente convivemos ou uma maneira nova de estar no ambiente de trabalho. O novo pode trazer outro momento da nossa intera\u00e7\u00e3o criativa com a nossa divindade principal, seja Krishna, Radha, Shiva, Parvati (ou outra).<\/p>\n

Ou pode-se desejar uma mudan\u00e7a que envolva todas essas quest\u00f5es ao mesmo tempo, de modo a nos fortalecer para a vida devocional, para bhakti yoga<\/em> e\/ou para manasi seva<\/em>. Bhakti yoga<\/em> \u00e9 a\u00e7\u00e3o engajada para com Deus – Krishna, Mahadeva, Shakti -, sem apegos pelos frutos do que devemos realizar como parte dos nossos compromissos para com Ele\/a. Manasi seva<\/em> \u00e9 um servi\u00e7o ainda mais na intimidade com a Pessoa Suprema, pois, compreende o uso do nosso poder de pensar para servi-Lo atrav\u00e9s do pensamento, vivificado na experi\u00eancia divina com Ele\/a.<\/p>\n

Sendo assim, o Diwali, que experienciamos enquanto est\u00e1vamos em Vrindavana, um festival de cinco dias de dura\u00e7\u00e3o, pode empoderar um devoto. Desde que se compreenda com clareza o que ele significa dentro da vida e como vivenciar seu significado pr\u00e1tico na realidade que nos cont\u00e9m, pode-se de fato dar direcionamentos muito relevantes para a viv\u00eancia devocional da exist\u00eancia. O \u00e1pice do evento \u00e9 o Lakshmi Puja (Ganesha e Sarasvati Puja), que coincide com o Kali Puja (em estados do sul da \u00cdndia), o Kedar Gauri Vrat, o Anvadhan e o Darsha Amavasya.<\/p>\n

Lakshmi, Ganesh e Sarasvati \u00e9 a divindade de fato da abertura para trazer mais sorte para a vida, de maneira inteligente e sem bloqueios. O Kali Puja \u00e9 adora\u00e7\u00e3o \u00e0 divindade que vence tantos dem\u00f4nios (Durga em tal humor), libertando a vida material de comprometimentos que nos s\u00e3o causados por esp\u00edritos mal\u00e9volos e pecaminosos. O Kedar Gauri Vrat \u00e9 um voto que se faz para Shiva Parvati, tamb\u00e9m associado a mudan\u00e7as para o mundo onde estamos. O Anvadhan \u00e9 o festival do fogo sagrado de Vishnu, ou seja, das chamas que flamejam nas pr\u00f3prias oferendas \u00e0 Lakshmi, a Esposa dEle. O Darsha Amavasya \u00e9 o \u00faltimo dia de um ciclo lunar, o qual marca a quase entrada na lua nova do Kartika, segundo o calend\u00e1rio que eu sigo. Ou seja, o Diwali, como o experimentei em Vrindavana, \u00e9 sim tempo de renova\u00e7\u00e3o, a partir da reg\u00eancia de Radha Krishna (Lakshmi Vishnu), sob a influ\u00eancia de muitas divindades.<\/p>\n

\u00a0<\/p>\n

Mensagem de Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\n

A \u00cdndia \u00e9, portanto, uma terra muito sagrada para quem consegue perceb\u00ea-la como tal. Talvez para as pessoas que se devotam a outras religi\u00f5es, seja dif\u00edcil compreend\u00ea-la da maneira como aqueles que seguem o Hindu\u00edsmo a compreendem. Trata-se do pa\u00eds mais populoso do planeta no momento, onde a desigualdade social \u00e9 muito marcante. H\u00e1 uma grande propor\u00e7\u00e3o da sociedade indiana que vive abaixo de uma calamitosa faixa de pobreza. As florestas s\u00e3o muito escassas, os rios sagrados est\u00e3o polu\u00eddos e as ruas de algumas cidades cheias de res\u00edduos s\u00f3lidos acumulados.<\/p>\n

A princ\u00edpio, quando se olha para ela, a partir de olhos meramente mundanos, n\u00e3o se consegue perceber sua vibrante espiritualidade. Mas, quem se deixa embrenhar nas esferas sutis das divindades, dos seus templos e das demais manifesta\u00e7\u00f5es devocionais, as quais abundam, principalmente, em cidades sagradas, como Varanasi e Vrindavana, reconhece com clareza de consci\u00eancia o poder divino que o pa\u00eds nos expressa. No presente artigo, apresentei um pouco do que pude experimentar, na parte inicial da viagem que realizamos, entre os meses de outubro e dezembro de 2023. T\u00ednhamos permanecido alguns anos sem visit\u00e1-la, devido \u00e0 pandemia do coronav\u00edrus e a outras quest\u00f5es f\u00edsico materiais.<\/p>\n

Ent\u00e3o, ao voltarmos, a encontramos espiritualmente saud\u00e1vel como sempre, apesar das mudan\u00e7as pol\u00edticas e econ\u00f4micas que observamos. Um governo neoliberal, que h\u00e1 algum tempo, est\u00e1 em frente \u00e0 sua administra\u00e7\u00e3o, tem causado preocupa\u00e7\u00f5es para os humanistas. Entre tantas, fomos pegos de surpresa, em Varanasi, por uma taxa de visita\u00e7\u00e3o, que foi recentemente estabelecida para visitantes que queiram tomar o darshana<\/em> de Shri Kashi Vishwanath, um jyotirlingam<\/em> t\u00e3o importante de Shiva.<\/p>\n

A pobreza aumentando tamb\u00e9m \u00e9 fruto de tal tipo de proposta governamental, mas, de maneira geral, a espiritualidade supera tudo. Mesmo que haja fontes de sofrimento para o corpo, a mente e as emo\u00e7\u00f5es, somos muito mais fortes quando nos devotamos ao objeto do nosso amor espiritual. \u00c9 assim que a \u00cdndia nos comove, n\u00f3s, que somos Hindu\u00edstas Integrais, nascidos em um pa\u00eds do ocidente, mas, intensamente engajados nesse\u00a0yoga<\/em>, no qual a vida \u00e9 puro ensinamento transcendental.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Notas<\/strong><\/p>\n

[1]<\/a> Seguimos o panchang<\/em> dispon\u00edvel em: https:\/\/www.drikpanchang.com\/<\/a>. Acessado em: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[ii]<\/a> Fundamos uma linha devocional, baseada no Sistema Filos\u00f3fio-Religioso Neo-Bhagavata. Mais detalhes em https:\/\/jardinsdekrishna.com\/nossa-historia\/<\/a>.<\/p>\n

[iii]<\/a> Algumas informa\u00e7\u00f5es tur\u00edsticas b\u00e1sicas sobre Varanasi (Kashi) podem ser encontradas em https:\/\/kashibanaras.com\/about-varanasi-kashi\/<\/a>. Acessada em 13 nov., 2023.<\/p>\n

[iv]<\/a> Mencionam-se 16 sanskaras<\/em> ou ritos mais importantes (entre o total de 40), que purificam corpo, mente e consci\u00eancia dos devotos hindu\u00edstas. Eles marcam diferentes momentos da vida, para os quais existem celebra\u00e7\u00f5es espec\u00edficas, desde a concep\u00e7\u00e3o \u00e0 morte do corpo. Alguns exemplos s\u00e3o: Garbhadhana<\/em> \u00e9 cerim\u00f4nia de concep\u00e7\u00e3o realizada por casais desejosos de ter um filho; Pumsavana,<\/em> para dar prote\u00e7\u00e3o \u00e0 vida do feto do beb\u00ea j\u00e1 concebido; Jatakarma,<\/em> para o nascimento da crian\u00e7a; Namakarana<\/em> \u00e9 o rito de dar nome ao rec\u00e9m-nascido; Annaprasana,<\/em> para quando o beb\u00ea j\u00e1 tem seu primeiro dente e pode comer comida s\u00f3lida cozida; Vidyarambha<\/em> \u00e9 o rito da alfabetiza\u00e7\u00e3o (aos cinco anos de idade); Praishartha<\/em>, quando come\u00e7a a aprendizagem dos Vedas<\/em>; Vivaha<\/em> \u00e9 o rito de casamento; Antyeshti<\/em> \u00e9 o rito funeral (ou final do corpo). Informa\u00e7\u00f5es obtidas em: https:\/\/www.prathaculturalschool.com\/post\/16-sanskaras-in-hinduism<\/a>. Acessado em: 13 Nov., 2023.<\/p>\n

[v]<\/a> Navratri significa \u201cnove noites\u201d. Trata-se de um festival que ocorre quatro vezes ao longo do ciclo anual, sendo celebrado nos templos, resid\u00eancias e em todos os lugares poss\u00edveis. Trata-se da celebra\u00e7\u00e3o da vit\u00f3ria sobre o mal, al\u00e9m de ser uma oportunidade grandiosa para meditar em torno de fortalecimento espiritual, ilumina\u00e7\u00e3o pessoal e amadurecimento para a vida. O Shardiya Navratri ou Mahanavratri \u00e9 o principal dos quatro eventos anuais, ocorrendo no outono da \u00cdndia.<\/p>\n

[vi]<\/a> Ver mais detalhes em https:\/\/www.varanasi.org.in\/durga-temple<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[vii]<\/a> Informa\u00e7\u00f5es sobre as nove formas de Durga, dispon\u00edvel em: https:\/\/rgyan.com\/blogs\/navadurga-9-divine-forms-of-goddess-durga<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[viii]<\/a> Alguns detalhes sobre Vrindavan, em: https:\/\/vrindavan.com\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[ix]<\/a> Darshana <\/em>\u00e9 a ben\u00e7\u00e3o oferecida pelo oportunidade da contempla\u00e7\u00e3o divina.<\/p>\n

[x]<\/a> Gopi<\/em> \u00e9 vaqueirinha, amante de Krishna. Existem infind\u00e1veis gopis<\/em> no C\u00e9u Espiritual de Vrindavana.<\/p>\n

[xi]<\/a> Passatempo eterno com Krishna, em humor conjugal, participando da dan\u00e7a amorosa que Ele executa com Suas amantes, as gopis<\/em>.<\/p>\n

[xii]<\/a> O s\u00edtio oficial do templo est\u00e1 em: https:\/\/www.srirangjimandir.org\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[xiii]<\/a> O s\u00edtio oficial do templo est\u00e1 em: https:\/\/www.shriradharaman.com\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[xiv]<\/a> O s\u00edtio oficial do templo est\u00e1 em: https:\/\/www.bihariji.org\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[xv]<\/a> O s\u00edtio oficial do templo est\u00e1 em: https:\/\/www.radhavallabhmandir.com\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[xvi]<\/a> O s\u00edtio oficial do templo est\u00e1 em: https:\/\/www.radhadamodarmandir.com\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[xvii]<\/a> Iskcon Vrindavan em: https:\/\/www.iskconvrindavan.com\/<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n

[xviii]<\/a> Imagens do Diwali dispon\u00edveis em: https:\/\/www.theguardian.com\/lifeandstyle\/gallery\/2023\/nov\/13\/diwali-the-hindu-festival-of-lights-in-pictures<\/a>. Acessado a: 13 nov., 2023.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Introdu\u00e7\u00e3o Para quem segue o Hindu\u00edsmo Integral, n\u00e3o h\u00e1 terra mais sagrada que a \u00cdndia, embora a Terra em si, seja Ela mesma uma divindade. Digo isso porque, depois de oito visitas ao pa\u00eds indiano, ao longo de dez anos (2013-2023), me sinto \u00e0 vontade para expressar-me de tal maneira. Aqui posso, enfim, celebrar, no […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":462,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[49],"tags":[5,18,10,52,53,32,14],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/461"}],"collection":[{"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=461"}],"version-history":[{"count":10,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/461\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":480,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/461\/revisions\/480"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/462"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=461"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=461"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/jardinsdekrishna.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=461"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}